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As questões que se prendem com a usabilidade dos recursos eletrónicos em geral interessam-me muito porque tecnicamentte me interessam e, como pessoa que não tem acesso direto a eles sobre maneira. Quero dizer, à parte de ser cego, tenho o azar de ser estranhamente cativado pelos audiovisuais como veículos de transmissão cultural, não só nem sobretudo pelo seu desempenho na área do lazer, mas por serem meios previligiados de divulgação e formação, meios de mais eficaz construção da cidadania e uma força motriz de criatividade e civilização. Estes são factores, porém, que, com tudo o que têm de perene e potenciador de nova mentalidade, deverão estar, indiscutivelmente, ao serviço de todos.
Também as criações artísticas não deverão ser alheias a quem aparentemente não pode usufruir delas diretamente, porquanto, não dispondo do recurso sensorial que lhe facultaria o pleno gozo estético da obra de arte, sempre pode contar, no entanto, com vias alternativas que lhe permitirão, pelo menos, não a ignorar como um conteúdo cultural capaz de valorizar mais o indivíduo no seu convívio social. Ora, no meu blogue, já é eu incluí um pequeno artigo sobre tal assunto e, porque você também se interessa por tudo isto, convido-a a conferir a matéria. Quem sabe, venhamos a trocar impressões mais profundamente após este meu comentário.
Obrigado pela atenção dispensada.
Sobre acessibilidade muito se pode idealizar, precisamente porque é um assunto de civilização. É uma resposta moderna para velhos problemas. Existe alguma sensibilidade política, mas os políticos não gastam dinheiro senão consigo mesmos. Quando algo se faz, é ineficaz para os supostos benficiários finais, mas pelo meio e pelos meios há sempre quem se remunere bem, porque, já se sabe, não há almoços de graça.
O que se fez no Metro em Lisboa a pensar nos seus utilizadores cegos, por exemplo, foi um excelente negócio para uma firma belga, alegadamente especializada na matéria e representou facturação para a entidade que produsiu em relevo a respectiva sinalética. As pessoas cegas só foram consultadas sobre a utilidade das inovações introduzidas depois do (negócio fechado).
O discurso político e a sensibilidade social parecem ser animadoras, mas é só uma corzinha na nova cosmética da propaganda político-partidária, no markting em favor do prestígio de empresas obrigadas à responsabilidade social por conveniência fiscal.
A despeito de opiniões dispendidas publicamente e da própria legislação sobre barreiras arquitectónicas homologada há mais de uma década, talvez em nome da criatividade, os senhores arquitectos que conceberam o átrio da estação de Metro da Baixa Chiado, tiveram a bizarra e piramidal ideia de mandar fazer paredes que não são verticais mas, inesperadamente, oblíquas, tipo quilha de navio, cuja base a bengala de cego não alcança, mas a cabeça racha.
Assistir a cenas destas, é verificar que a dignidade humana dos que têm limitações visuais não conta na prancheta daqueles que só obedecem aos cânones estéticos para encher o olho ou o bolso por conta do mecenato. .
A audiodescrição não é o ovo de colombo nem os seus apaixonados adeptos inventaram a pólvora. Para dar sistemática prossecução a tal desiderato, é preciso antes investir e trabalhar no desenvolvimento não só tecnológico, mas também ´jurídico e logístico, de forma a que os supostos destinatários se possam assegurar de que são realmente servidos e não utilizados como curiosidade científica. Tenho lido muita documentação que pretende teorizar a audiodescrição como uma verdadeira panaceia e que, na verdade, não passam duma mistificação hiperbólica que pretende fazer acreditar numa forma de pôr cegos a disfrutar da arte cinematográfica tal qual ela é: - um universo todo ele do visual para o visual. Tenham paciência, mas isto é incontornável.
Em Portugal, a RTP engana os destinatários deste serviço, dando-lhe pela rádio, em onda média, com todas as limitações que se lhe conhecem, a descrição falada duma série que passa no primeiro canal da televisão pública. Isto não se faz, é uma fralde desconfortável de todas as maneiras.
A principal operadora de televisão por cabo em Portugal já ofereceu em excelentes condições técnicas este serviço, mas não acautelou o acesso a ele, porquanto uma pessoa cega, que esteja sozinha em casa, não tem como ler os menus de opção, logo a começar por não saber qual a tecla verde, se não lho fòr dito; e, desculpem lá, mas isto é contornável!
Com o emprego de audiodescrição nos DVD's, dá-se exactamente o mesmo impedimento de acesso directo aos menus de seleção, se este não fòr reproduzido em computador com o auxílio de leitor de écran.
Obrigado pela vossa atenção a estas modestas considerações, não porém tão irrelevantes que careçam de conclusões complementares. Todos sabem ao que me refiro e, certamente, já lá têm as suas ideias a respeito do respeito que elas merecem.
Manuel António Fernandes
Caro Filipe, obrigado por ter tecido considerações que reflectem o que também eu penso. Costumam ser claras e judiciosas e acompanhadas sempre do meu sincero apreço. Se escrevesse para um periódico, eu seria seu leitor inveterado. As suas reflexões têm a qualidade de não presumirem toda a verdade, mas antes esgrimi-la com a honestidade intelectual de quem desafia e rejeita o senso comum.
Isto para dizer que subscrevo o seu comentário sobre a reportagem simulada com a jornalista da RTP. Tratou-se dum conjunto de situações mais ou menos pré-concebidas com o objectivo de passar uma imagem que, não pretendendo questionar estereótipos arreigados no público, também acaba por não obter o efeito desejável: - promover uma nova mentalidade sobre a problemática abordada, aliás, não problematiza. Afinal, como peça jornalística de televisão que é, pretende, sobretudo, estimular a curiosidade e a surpresa de quem assiste, mais do que o seu esclarecimento. Senão, verifique-se a opção: (casal de cegos) para protagonizar o papel de anfitreões da jornalista imolada à cegueira fictícia. Provavelmente, também o público em geral esperaria que a esposa do Albano fosse, como ele, também cega.
Apetece repetir aqui a mais profunda frase de incontornável inspiração divina de que o senso comum é capaz: - É a vida!