Todos sabemos como as cidades estão cheias de armadilhas para o transeunte cego. Os obstáculos fixos na via pública podem ser um excelente ponto de referência, nada têm de indesejável, a não ser que sejam materialmente agressivos. Há, no entanto, obstáculos mais ou menos móveis que nunca se sabe onde param e que por vezes assumem contornos verdadeiramente assassinos.
A minha intenção, aqui, não é teorizar sobre a natureza física dos mamarrachos urbanos, mas antes para chamar a atenção de todos para situações de transgressão ao respeito cívico pelos outros, cegos ou não, situações em que o que predomina é o mau gosto e a ganância. Isso, por exemplo, que as autoridades autárquicas e autocráticas semeiam pelo chão sagrado dos municípios e consagrado aos munícipes, inclusive todos, a que tão ufana e profanamente gostam de chamar "mobiliário urbano", ignora um certo conjunto de cidadãos, os quotidianos invisuais que, confiantes mas não seguros, avançam para floreiras ou bancos de pedra que lhes arrancam a pele às canelas desprevenidas, ou para estruturas metálicas de esquinas cortantes onde o seu rosto recebe a marca sangrenta e humilhante da vergonhosa falta de respeito que o dinheiro tem pelas pessoas. Refiro-me à publicidade que nos metem à cara bem no meio do nosso caminho e, já agora, abordemos a nova moda da pequena publicidade à porta de lojas, sobretudo do ramo alimentar, que consiste em obstruir maior ou menor parte do passeio, consoante a largura deste, (até isso parece indiferente), com uma espécie de cavalete com o seu anúncio exposto de forma a que toda a gente o vislumbre mesmo à distância; ora, o transeunte que não enxerga só sabe que ele lá está quando, com considerável azar, tropeça e cai junto com ele ali mesmo na via pública.
A este respeito, consultei alguns dos logistas anunciantes e, surpreendido, fiquei a saber que nada pagam pelo abusivo direito de atrapalhar a circulação de todos, mas todos, os cidadãos. Por isso me pergunto em que espécie de enquadramento legal cabem estas questões da mobilidade pública de toda a gente.
Este foi mais um desabafo do cego mau e patrocinado pela publicidade enganosa da sociedade inclusiva!
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Comentários
barreiras
Olá !
Nas cidades existem imensas barreiras com q nos deparamos, prinpalmente para os DVs e cadeirantes .... ! :-(
Felizmente, já existem alguns municípios q já estão mais sensibilizados para tal, e já põem rampas rebaixadas, estacionamento para deficientes .... ! loool
Mas, ainda existem muitas por sensibilizar !
E aí, nós os deficientes devemos ter uma vós activa, não individualmente, mas em grupo, através de movimentos e associações, pq a união faz a força !
E tb através dos nossos testemunhos activos é q poderemos mudar as coisas !
Abraços
Selva urbana
Caro cibernauta, aproveito esta mensagem para lhe agradecer a atenção ao meu comentário e para, já agora, lhe lembrar que muitos dos seus leitores só têm acesso ao que aqui escreve atrabés de software de voz, ou seja, um sistema que lê têbê quando você escreve "tb" no lugar de "também", por exemplo. Isto pode acarretar, se o utilizador não programou o software para pronunciar uma palavra correspondente à respectiva abreviatura, como compreenderá, alguma dificuldade na apreensão imediata das palavras que grafar de forma abreviada.
Quanto ao assunto em epígrafe, resta-me sublinhar que a minha revolta concentra-se toda num problema de mentalidade que aprisiona o povo português numa pequenez mesquinha, numa falta de respeito cívico pelos outros que lhe resulta, invariavelmente, ora da ignorância, ora da ganância, ou então das duas misérias morais que, associadas, resultam em tão grande prejuízo para os cidadãos que se debatem com maiores limitações na sua mobilidade urbana.
Mas eu continuo a considerar muito mais construtivo um debate à volta de um urbanismo, digamos, inclusivo, não necessariamente por causa dos "cidadãos diferentes", antes porque as barreiras que existem, mais ainda as piores delas - as mentais -, são o vergonhoso testemunho do nosso atraso como povo, são a prova cabal de que ainda não planeamos a vida social com o apuro civilizado de quem conta com a participação de todos para a construção dum país onde todos tenham direito a viver melhor.
São realidades como estes que me obrigam agora, por exemplo, a dirigir uma carta às autoridades municipais da cidade onde quotidianamente transito com o fim de reclamar contra a utilização abusiva, talvez ilegal, de um passeio por uma esplanada de café. Na verdade, faço-o porque este atentado à integridade física do peão obrigado a circular na estrada, assume o aspecto de um negócio em que ganha a entidade que licenceou a ocupação do passeio com cadeiras e mesas e ganha o proprietário que reserva para os seus clientes um espaço público que deveria ser de todos. Aqui tendes vós o espectáculo bárbaro da selva urbana em que quem perde, afinal, são os do costume, os tão lamentados deficientes.
Um abraço do cego mau e desculpem qualquer coisinha!
agentes activos
Olá Manfins !
É este o teu nome preferido ou há outro q prefiras mais ? looool
Bom, quanto às abreviaturas, vou evitá-las, ok ?
Já agora, como pronuncia o jaws a abreviatura q ? Pronuncia bem ?
Acho q o jaws devia ter um dicionário de abreviaturas !! looool
Fizeste bem em me avisar, nos aspectos que não tava a proceder do melhor modo ! lool
Sobre o assunto ....
Este é o ano da irradicação da probeza e inclusão social, né ?
Há um aspecto q me tocou muito, pobres não são só aqueles que morrem à fome !
Mas também aqueles que aparentemente bem vestidos passam por muitas necessidades e privações, e depois há os pobres de espírito .... enfim, já estamos a ver que há muitos mais do que pudessemos imaginar !
É bom ter a consciência disso !
Eh, pá, eu acho que as autarquias deveriam tomar medidas, no sentido de lutar a favor da inclusão:
Dar abrigo aos sem abrigo, dar um trabalho aos toxicoindependentes e incentivar a que eles deixem de o ser, ajudar os pobres, proporcionar acessibilidades aos deficientes físicos, .... !
Enfim .... toda uma série de medidas ... !
Mas acontece que os fundos das autarquias não são imensos, e portanto muitas vezes temos q ser nós a mexernos !
Tornando-nos agentes activos e interventivos na sociedade e igreja da actualidade !
E já reparei que tu és um deles ! lool
E se nós, não só individualmente mas em grupo, através de associações e movimentos, poderemos contribuir para uma maior inclusão social, atenuando a discriminação .... !
Mas individualmente, podemos fazer mta coisa: motivar um intoxicoindependente para deixar a droga, ajudar os pobres, .... no fundo é dar-mos um pouco do nosso tempo precioso a quem mais precisa .... !
Mas, temos que ser nós, senão ninguém o faz !
E dando evidentemente o nosso testemunho !
Abraços