Helen, A Menina da Noite e do Silêncio
História Verdadeira
Há cem anos, na América, nascia uma menina loira. O pai e a mãe estavam muito felizes.
Chamaram-lhe Helen Keller. Helen é um bonito nome.
Cerca dos dezoito meses, Helen adoeceu. E, quando ficou boa, os pais aperceberam-se que ela já não via, nem ouvia nada.
Tinha-se tornado cega e surda.
Entretanto crescia, brincava, comia e corria como as outras crianças, só que não se lhe podia explicar, dizer ou mostrar nada.
Nós que vemos, sabemos que o Céu é azul, vemos o sorriso da Mamã e do Papá, vemos os animais e tudo o que se passa em nossa casa, lá fora, na rua, nos campos e por todo o lado.
Helen não via nada.
Nós que ouvimos, ouvimos a voz do Pai e da Mãe, ouvimos baterem à porta, ouvimos o ruído dos carros e ouvimos música.
Helen não ouvia nada.
Em todo o lado, ouvimos sempre qualquer coisa, mesmo à noite, quando dormimos.
Quando se é surdo não se compreende o que dizem as pessoas, porque se riem, porque se zangam, porque falam. Não podemos repetir as palavras, para aprender o nome das coisas. Não podemos falar para perguntarmos o que queremos. E, sobretudo, não temos palavras para pensar.
Os que são apenas cegos, têm ouvidos para ouvir e perceber o que se passa à sua volta.
Os que são apenas surdos, têm olhos para ver e compreender o que se passa ao seu redor.
Mas ser surdo e cego é terrível! É como se estivéssemos sempre de noite.
Helen estava assim, completamente só no silêncio e na noite.
Os pais não sabiam o que fazer para lhe explicar as coisas. Muitas vezes Helen enfurecia-se e partia tudo o que encontrava, rasgava as roupas, comia com as mãos e atirava o prato ao chão; batia na irmã e gritava.
Então, os pais choravam porque não sabiam o que fazer para lhe ensinar o que ela não fazia e para lhe fazer compreender que a amavam muito.
Helen estava muito triste. Muitas vezes, ficava sentada no chão a chorar o dia inteiro. Helen estava só no silêncio e na noite e sentia-se muito infeliz.
Nunca a castigavam e Helen era ainda mais infeliz. Quando fez 7 anos, os pais tiveram uma boa ideia; pediram a uma professora para vir morar com eles. Chamava-se Ann Sullivan e tinha dezoito anos.
Já tinha sido cega, mas foi operada e agora via. Estava decidida a ajudar as crianças cegas. Conhecia muitos jogos para cegos. Mas Helen era cega e surda; e Ann não sabia se conseguiria vir a falar com Helen. Ao princípio, Helen era muito mauzinha com a sua professora e não queria aprender nada. Não gostava de ser mandada porque estava habituada a fazer tudo o que queria. Mas Ann era muito paciente.
Ensinou-lhe muitas coisas: enfiar pérolas, tricotar e coser. Separar os objectos redondos dos quadrados, e os duros dos moles, e, pouco a pouco, Helen tornou-se gentil e asseada. Não se podia servir dos olhos nem dos ouvidos; mas tentava compreender muitas coisas com as mãos. E foi com as suas mãos que Helen aprendeu a falar. Um dia Ann tocou-lhe nas mãos, fê-la compreender, enfim, que lhe ensinava desse modo, o nome das coisas. Percebeu, assim, que tudo tinha um nome: as coisas, os animais e as pessoas.
Aprendeu o seu nome Helen e Papá e Mamã e Professora. E quando Helen tocava com as suas mãos nas do pai, dizendo Papá, ele chorava de alegria. Era formidável!
Então Helen aprendeu a ler seguindo com os dedos as letras para cegos. E mais tarde conseguiu falar com a sua voz; mas era muito difícil porque não ouvia o que dizia. Helen era muito inteligente e aprendia depressa. Queria saber tudo.
Foi à escola com Ann que a acompanhava por todo o lado e lhe dizia, com as mãos. Tudo o que diziam as professoras. E Helen fazia os trabalhos de casa na sua máquina de escrever.
Tornou-se tão inteligente que passou num exame difícil, em que nenhuma rapariga do seu país tinha conseguido passar.
Helen tornou-se célebre e todos a queriam conhecer.
Viajou muito. Foi a todos os países para explicar às pessoas que era preciso ocuparem-se das crianças surdas e cegas porque elas também podiam compreender, aprender como ela, e serem felizes.
Helen sabia que tinha muita sorte, tinha uns pais que a amavam e que tinham podido pagar a uma professora só para ela. ´
E, sobretudo, tinha Ann que era uma professora muito inteligente e paciente. Helen gostaria que todas as crianças cegas e surdas fossem ajudadas e amadas como ela foi.
Agora graças a Helen Keller e a a Ann Sullivan sabemos ocupar-nos melhor das crianças que não vêem e não ouvem. Já não estamos sós no silêncio e na noite.
Fim
Fonte: Edições Desabrochar
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