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Braille: Livro acessível é realidade distante para deficientes visuais

por Lerparaver

Andreia Santana

O Código Da Vinci, do escritor Dan Brown, já foi lido por mais de 1,5 milhão de brasileiros e ocupa há meses a lista dos mais vendidos no país. Para Iracema Vilaronga e João Bosco de Santa Rosa, porém, o acesso ao best seller não é tão simples quanto ir até à livraria mais próxima e pedir o exemplar no balcão. Os dois são cegos e precisam ter acesso a outras formas de linguagem que não a escrita convencional. Para ler O Código Da Vinci, por exemplo, conseguiram, através de listas na internet, o arquivo do livro em CD.

Situações como essa refletem a dificuldade dos deficientes visuais que desejam ter acesso a diversão proporcionada por um romance ou à bibliografia pedida pelo professor da faculdade. João Bosco Santa Rosa está no sexto semestre de Administração de Empresas e precisa de muita persistência para conseguir seu material didático. “O livro acessível ainda é uma realidade distante para o estudante cego. Muitas vezes, o professor pede os livros mais atuais sobre determinado assunto e encontrar esses em Braille é praticamente impossível”.

Para driblar a dificuldade, a solução é encontrar alguém que leia o livro para o estudante ou que grave essa leitura em CD. Vale ainda escanear as páginas do livro e jogar no computador, onde elas serão lidas por programas específicos para usuários que não tem o sentido da visão, mas entendem de tecnologia. “Esse recurso do leitor de tela ainda é restrito àqueles que tem acesso ao computador e a esses programas, o que não acontece com estudantes de baixa renda”, acrescenta João Bosco, que também preside a Associação Baiana de Cegos e trabalha como gerente de TI (Tecnologia da Informação) do Instituto de Cegos da Bahia.

Iracema Vilaronga, única representante baiana na Comissão Brasileira do Braille, conta que estudantes cegos de todo o mundo montam verdadeiras redes de informação na Internet, onde trocam arquivos de livros escaneados ou gravados em MP3, tanto em língua portuguesa, quanto em francês, inglês e espanhol. Ela acredita que nada disso precisaria ser feito se as editoras vendessem os livros também em CD. “Muitas alegam que dessa forma a pirataria seria facilitada, mas, no entanto, também se pirateia livros impressos, se não fosse assim, os estudantes videntes (como são chamadas as pessoas que tem o sentido da visão) não fariam fotocópias de livros inteiros. Existe um mercado consumidor ávido por informação e no dia que a indústria literária descobrir isso, a realidade começa a mudar”.

Esse mercado consumidor a que se refere Iracema tem respaldo em dados estatísticos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Censo 2000 contabilizou 148 mil cegos no Brasil, 57 mil apenas no Nordeste. A Bahia, com 15,4 mil pessoas, é o segundo estado brasileiro com maior número de deficientes visuais. Perde apenas para São Paulo, onde vivem 23,9 mil cegos. É também na capital paulista onde funciona uma das duas únicas imprensas Braille do Brasil, a Fundação Dorina Nowil. A outra imprensa fica no Rio de Janeiro, na Fundação Benjamin Constant.

Entidades como o Instituto de Cegos da Bahia, a Associação Baiana de Cegos e o setor Braille da Biblioteca Pública do Estado, nos Barris, recebem das duas fundações livros transcritos para o alfabeto usado pelos deficientes visuais e arquivos de áudio. Semanalmente, a Dorina Nowil envia a revista Veja gravada na integra em CD para as entidades. Uma vez por mês, chegam também os CDs com a revista Cláudia. As gravações, transcrições e a distribuição do material são gratuitas.

As duas revistas representam apenas uma gota no meio do oceano de informação que gente como Iracema e João Bosco gostariam de ter acesso. Ela quer ler também a revista de ciências Super Interessante, enquanto ele vive buscando compensar na internet o déficit deixado pelo inexiste mercado editorial para deficientes visuais.

Estudantes atrasados - Tentativas para ampliar as opções para estudantes cegos até que já foram feitas, mas ainda esbarram na burocracia brasileira e na falta de consciência da sociedade. O Ministério da Educação possui o Programa Nacional do Livro Didático em Braille, financiado através do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Quando a iniciativa começou, em 1999, foram lançados 20 títulos em Braille; dois anos depois, em 2001, esse número havia aumento para 90 títulos; em 2004, eram 128 e recentemente, o MEC já possui uma cartela com cerca de 800 títulos de livros didáticos adaptados para leitores cegos.

Seria um bom começo, se os livros didáticos não ficassem encalhados nas escolas, principalmente nas de ensino fundamental. Laura Lídice Pinheiro dos Santos, diretora pedagógica do Instituto de Cegos da Bahia, localizado no Barbalho, mostrou à reportagem do A Tarde On Line pacotes de livros enviados pelo MEC para escolas infantis do bairro que fecharam ou que, por não possuir mais estudantes com deficiência visual, doaram o material para o ICB. O mais incrível é que muitos pacotes estavam lacrados como vieram do MEC porque as escolas nunca usaram esse material.

“O MEC não tem como obrigar uma escola a adotar o livro didático cuja transcrição em Braille já exista e os professores, ao escolher o material, não levam em conta que ao adotar um livro cuja transcrição não existe, automaticamente estão excluindo o aluno cego. Esse aluno ficará em desvantagem no curso. Muitas vezes, os pais de crianças cegas compram o livro em tinta e buscam locais onde se pode fazer a transcrição para o Braille”, explica Laura.

Transcrever um livro em tinta para o alfabeto usado pelos deficientes visuais não é tarefa fácil. A diretora pedagógica do ICB revela que, além de garantir que o conteúdo será transposto na integra, o tradutor precisa ainda ser um bom conhecedor das normas técnicas e convenções adotadas para o Braille em língua portuguesa. O trabalho de Iracema Vilaronga é justamente estudar formas de fazer essas transcrições sem comprometer ou limitar o conteúdo a que os leitores cegos tem acesso. “Para isso são criados padrões adotados em todos os paises de língua portuguesa, porque seria impossível que cada local adotasse uma convenção. Imagine como seria possível para um aluno cego estudar química orgânica se em cada lugar a tabela dos elementos fosse feita de uma forma?”

No ICB, Iracema trabalha transcrevendo conteúdos. A entidade, que atende 300 estudantes, monta apostilas e livros para as aulas transpondo conteúdo impresso em tinta para o alfabeto Braille. O custo de se montar um material desses, no entanto, é bastante elevado. Para se ter uma idéia do que significa preparar um material didático para um aluno cego, o custo de uma impressora semi-industrial, especifica para imprimir em Braille, não é menor que R$ 26 mil reais. O deficiente visual que quiser ter uma impressora doméstica que faça a mesma coisa, não gasta menos que R$ 14 mil. Para ajudar na manutenção da entidade, o ICB presta serviço transcrevendo conteúdos para o Braille como cardápios de restaurantes e guias turísticos.

Falta bibliotecas - Por causa do custo elevado, muitos estudantes cegos buscam o apoio de bibliotecas públicas para estudar. Em Salvador só existe um espaço com livros em Braille aberto ao público, nos Barris. As bibliotecas do ICB e da Associação Baiana de Cegos só abrem para as pessoas atendidas por essas entidades. O acervo do setor Braille da Biblioteca Central dos Barris, embora conte com quatro mil títulos e 6,5 mil exemplares, não chega nem a 10% do total de mais de cem mil livros que compõem a biblioteca para pessoas sem deficiência visual.

Gerusa Maria Ferreira de Souza, coordenadora do setor Braille há oito anos, conta que no espaço, três professores especializados e 50 voluntários se revezam no atendimento das cerca de 250 pessoas que buscam o espaço por mês. Recentemente, a biblioteca instalou duas cabines com isolamento acústico, onde será possível fazer gravações de CDs. Três computadores conectados à internet e com programas de leitor de tela ajudam os estudantes que buscam o espaço para se preparar para as provas da escola ou do vestibular.

“Temos pessoas que freqüentam a biblioteca apenas pelo gosto da leitura. Também oferecemos o serviço de empréstimo, por 15 dias, e temos muitos leitores cadastrados”, diz Gerusa. Como nas cidades do interior, os setores em Braille geralmente são minúsculas salas com poucos exemplares, a biblioteca da capital acaba sendo referência no Estado.

Freqüentemente, a coordenadora do espaço, que é também professora especializada em ensinar Braille para pessoas que perderam a visão depois de adultas, viaja para fazer conferencias e apresentar os projetos desenvolvidos no espaço dos Barris. “Nós temos uma intensa atividade cultural na biblioteca. No dia 21 de agosto, por exemplo, vamos fazer pela terceira vez um tributo a Raul Seixas e o público dos nossos eventos é formado tanto pelos freqüentadores da biblioteca quanto por pessoas que possuem a visão física”.

Saiba Mais Louis Braille O sistema Braille é o método de escrita e leitura das pessoas com deficiência visual. Consiste em 63 combinações que representam todas as letras do alfabeto, sinais de pontuação e acentuação, além de símbolos matemáticos e musicográficos. O inventor do método, o francês Louis Braille perdeu a visão aos três anos, em um acidente na oficina do pai. Educado no Instituto Real para Jovens Cegos, em Paris, aos 15 anos ele criou o alfabeto Braille, inspirado no código inventado pelo oficial Charles Barbier para se comunicar com seus soldados. Os símbolos em Braille são impressos em alto relevo e as pessoas cegas lêem através do tato. Quanto mais o aluno utiliza a ponta dos dedos para ler, mais o tato é desenvolvido, explica a professora Gerusa.

Serviço
Setor Braille da Biblioteca Pública dos Barris
Funcionamento – segunda à sexta, das 8h às 18h
Telefone – (71) 3328-4555 (ramal 305)

Instituto de Cegos da Bahia
Tel: (71) 3242-1073

Associação Baiana de Cegos
Tel: (71) 3328-0661

Fonte: http://www3.atarde.com.br/cidades/interna.jsp?xsl=noticia.xsl&xml=NOTICI...

Comentários

Olá! O telefone do setor Braille da Biblioteca mudou para: (71) 3117-6020Olá! O telefone do setor Braille da Biblioteca mudou para: (71) 3117-6020

Por, favor envie para o meu Email , as normas e técnicas sobre transcrição de textos para o braille , vou fazer uma prova de professor revisor braille e disponho de pouco material.