Primeiro jornalista cego diplomado de Angola
fala sobre preconceito
Publicado em: 23/11/2010 por
Assessoria de Comunicação e Marketing- C&M - Cilene Macedo
TCC de Jornalismo de Fernando Segundo discute o cego e o mercado de trabalho e é
apresentado simultaneamente na Grande Florianópolis e em Angola
Fernando Domingos Camuaso Segundo apresentou nesta sexta-feira, 19 de novembro, o
seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Comunicação Social-Jornalismo na Unisul
da Grande Florianópolis, na Pedra Branca, em Palhoça.
A banca que compôs a avaliação do TCC foi internacional, com professores no Brasil
e em Luanda, Angola, país de origem do aluno que está se formando em Jornalismo e
que tem forte aptidão para o meio audiovisual, em especial a mídia rádio. Ao longo
do curso, Fernando também apresentou expressivos trabalhos em fotografia, com exposições em Palhoça e Florianópolis.
A monografia O cego e o mercado de trabalho discutiu questões sociais, culturais
e de empregabilidade do cego na Grande Florianópolis e na capital angolana. Orientado
pelo professor Dr. Jaci Rocha Gonçalves, e utilizando o método do jornalismo etnográfico,
Fernando fez uma série de entrevistas com pessoas cegas, no Brasil e em Angola.
Concluiu que grande parte dos cegos procura capacitação para se inserir no mercado
de trabalho, com cursos técnicos, de ensino médio e superior, mas são poucos os contratados, donde se percebe um forte preconceito de quem emprega, de quem contrata, apesar de
todo o avanço na legislação pertinente ao tema.
A maior barreira, no caso, é a da acessibilidade atitudinal, ou seja, falta atitude
ao empregador para perceber que contratar uma pessoa cega que se capacitou é mais
do que uma exigência legal, é uma maneira de inseri-la no mercado e aumentar a sua
autoestima. O cego não quer assistencialismo, o cego que se capacita quer uma oportunidade
de trabalho, ele sabe trabalhar, sabe fazer aquilo que aprendeu, observa Fernando,
que além do Jornalismo fez cursos de reflexologia e de massoterapia.
A questão da acessibilidade a uma universidade e ao mercado de trabalho foi debatida
durante os mais de 60 minutos de duração da banca de monografia, apresentada a partir
do auditório C da Unisul na Pedra Branca, por vídeo conferência, para a universidade
Agostinho Neto, de Angola. Também a TV pública de Angola registrou a monografia,
trabalho necessário para a conclusão do curso e a obtenção do título de jornalista.
Fernando será o primeiro jornalista cego diplomado de Angola. O seu TCC teve nota
final 9,0 (nove). Felipe Faria, professor e presidente da Associação Nacional do
Cego em Angola, e Venceslau Mujinga, da universidade Agostinho Neto, foram os examinadores do trabalho em Angola. Pela Unisul, avaliaram o trabalho de Fernando a coordenadora do programa de Acessibilidade da Unisul e coordenadora da biblioteca universitária na Grande Florianópolis, Salete Cecília de Souza, e o professor de Jornalismo Mauro Meurer.
O diretor do campus Grande Florianópolis da Unisul, Hércules Araújo Nunes, assistiu
à banca, assim como representantes da Acic (Associação Catarinense de Integração
do Cego) e de movimentos sociais. A apresentação foi incluída, pelo professor Jaci, na programação da terceira UniDiversidade, evento que revitaliza culturas e povos
e que teve, nesta sexta, também, o lançamento de um livro, pelo professor Pedro Santos,
sobre Guiné Bissau, um país, assim como Angola, da costa ocidental da África.
Na plateia, em Luanda, estavam familiares de Fernando, que depois da defesa da monografia, puderam conversar com o aluno, que está longe de casa há quase 10 anos.
Em Palhoça, entre os presentes, uma angolana cega chamada Rosa da Silva Manoel chamou a atenção. Aluna da Unisul, está sem contato com os seus familiares há nove anos.
Num esforço, pediu à universidade e à TV angolana um contato com seus familiares.
Fernando entrou na Unisul em 2005, premiado com o programa de bolsas Unisul 40 anos,
e está concluindo o curso beneficiado pelo artigo 170 da legislação estadual.
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