Secretária de Estado adjunta e da Reabilitação diz que cerca de 160 mil deficientes visuais continuam em casa porque a sociedade os estigmatiza. Por isso, entende, mais do que recursos, é preciso congregar vontades
A secretária de Estado adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, exortou ontem as autarquias, organizações e associações de pais a trabalharem com maior afinco em prol de uma inclusão efectiva dos portadores de deficiência. «Ainda há um longo caminho a percorrer e para que os resultados apareçam mais rapidamente é preciso um trabalho de parceria», explicou.
A governante lembrou, a propósito, que «a sociedade ainda estigmatiza as pessoas que não são iguais» e adiantou que cerca de 160 mil deficientes visuais continuam em casa, pela falta de respostas efectivas.
Ao intervir na sessão de divulgação dos meios aos dispor da integração dos alunos com necessidades especiais no ensino regular, organizada pela Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular e pela Direcção Regional de Educação do Centro, que decorreu na Escola Secundária Infanta D. Maria, Idália Moniz lembrou que a integração plena só é possível se, a par dos recursos, existir uma congregação de esforços e vontades.
Também presente na cerimónia, o secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, mostrou-se confiante de que, até 2009, os 787 alunos portadores de deficiência visual que frequentam as escolas do ensino regular tenham as mesmas condições de ensino que os restantes. «Não devemos ter desculpas para não cumprir este objectivo», vincou, apesar da se tratar de uma «tarefa muito exigente» mas, em simultâneo, de pequena dimensão.
Para o governante, «a escola inclusiva deve ser uma realidade concreta e não uma frase feita».
Já o presidente da ACAPO, Esteves Correia, pediu aos professores que ensinem os alunos portadores de deficiência visual a ser autónomos e a criar a sua própria autonomia.
Na sessão de ontem foi ainda demonstrada a utilização dos manuais escolares Daisy (solução que alia a voz, previamente gravada, a textos e imagens digitalizadas), por um aluno com deficiência visual, habitual utilizador deste recurso. Desenvolvidos em cooperação pela Fundação Vodafone Portugal, a Porto Editora e o Ministério da Educação, já estão produzidos 35 manuais digitais que são utilizados por cerca de 100 alunos cegos ou com baixa visão, do 5.º ao 12.º ano de escolaridade.
Aluno invisual da Escola D. Maria e do Conservatório de Música
Mickael deixou mensagem de esperança
Mickael Salgado, 16 anos, é o exemplo de que a deficiência visual não é um entrave à concretização de sonhos. O dele passa pela música - frequenta o Conservatório de Música de Coimbra - e o talento que ontem revelou deixou a certeza de que o sonho poderá tornar-se realidade. Voz poderosa, talento inatacável a dedilhar a guitarra, Mickael brindou governantes, professores e colegas com três músicas, qual delas a mais bem interpretada. Da parte da tarde, esteve no programa Contacto, transmitido na SIC.
No Dia Mundial da Bengala Branca, este aluno do 10.º ano da Escola Infanta D. Maria deixou uma «mensagem de fé» a quem, como ele, vive privado da visão.
«Devemos acreditar e lutar, pois as dificuldades podem e vão ser ultrapassadas», sublinhou.
Satisfeito pela forma como se integrou numa turma de ensino regular, Mickael apenas deixou um lamento: a desigualdade no acesso a material pedagógico.
Paulo Cardantas
Fonte: Diário de Coimbra
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