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Comentários efectuados por Marco Poeta

  • Marco Poeta comentou a entrada "Como citar endereços da Internet?" à 15 anos 1 mês atrás

    Olá Aquilino!
    Tens razão é mesmo muito mais rápido!
    Obrigado!
    Abraço

  • Marco Poeta comentou a entrada "Problemas de Acessibilidade no Ensino Superior" à 15 anos 1 mês atrás

    Chamo-me Marco, tenho 26 anos e sou implantado há 4 anos.
    Estudei em escolas regulares, tive imensas dificuldades, poucos amigos, ficava muitas vezes sozinho nos intervalos, tinha aulas individualmente e os meus professores escreviam-me na palma da mão e no computador onde eu lia numa linha braille e os meus apontamentos eram impressos.
    Apesar das minhas dificuldades, era um jovem interessado e esforçado, por vezes sacava melhores notas que muitos dos meus colegas. As matérias eram as mesmas e quando já no 12º comecei a ouvir a comunicação tornou-se mais fácil. Interessei-me pela literatura, desejando ser escritor e mais tarde pela Filsofia, mas o meu isolamento levou-me a escolher a Psicologia. O meu professor de Psicologia era cinco estrelas, porque tudo adaptava para mim e graças a ele foi possível colaborar numa aula de laboratório onde dissecámos cérebros de carneiro e eu pude tocar tudo à vontade sem sentir nojo.
    Encontrei na Psicologia uma forma de me aprofundar e de ser útil aos outros e estava decidido a que pessoas como eu tivessem o direito de escolher o que queriam.
    Terminei o 12º ano aparecendo no quadro de mérito com 18 valores e com um sorriso de orgulho.
    Matriculei-me na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra, mas desisti ao constatar que as condições eram insuficientes para mim e que iria estar muito longe de casa, da família, meu principal apoio. Frustrado, decidi um curso profissional de massagista mas quando a Casa Pia entrou em contacto comigo e me disse poder ajudar-me, senti a esperança voltar e matriculei-me na Universidade Lusófona de Lisboa.
    O colégio de surdocegos providenciou os apoios que eu iria necessitar, e tinha duas técnicas a trabalhar para mim, digitalizando-me a informação, convertendo-me os formatos dos textos de forma acessível e acompanhando-me às aulas, ajudando-me nas tarefas que exigiam observação e escrevendo-me na palma da mão palavras de que eu tinha dificuldade em ouvir. Eu era um sortudo, porque tinha todos os apoios técnicos mais avançados: um Pronto, um Poet Compact, uma impressora braille e outra de relevos, um portátil com linha braille e um FM que é um dispositivo que parece um microfone que o professor coloca ao pescoço e com outro dispositivo que se liga ao meu aparelho externo do implante coclear eu consigo ouvir sem interferências , mas a vantagem é que só ouço o professor e não os colegas.
    Nos primeiros semestres não tinha amigos e os meus colegas eram obrigados a ficar comigo e não existia uma verdadeira comunicação entre nós. Estavam todos impressionados por ver um rapaz que de longe parecia normal mas que de perto era cego e surdo ao mesmo tempo e ninguém fazia ideia de que era a minha vida.
    Muitas vezes desesperei e pensei em desistir, porque a universidade não tinha nada preparado para os cegos e muito menos no curso de Psicologia...
    A minha desmoralização era tanta porque as aulas eram muito visuais e eu não podia fazer avaliação e muito menos observação...
    Claro que estudava com afinco e chegava a sacar as melhores notas, passando a tudo e deixando os colegas mais impressionados. Mas eles continuavam a achar confuso um rapaz com as minhas limitações estar a tirar um curso superior.
    Em relação aos meus professores, nenhum alguma vez contactou com um deficiente visual e só alguns se foram aproximando de mim, curiosos.
    A estatística era para mim um obstáculo maior que as outras cadeiras, porque era num programa chamado SPSS nada acessível e eu ia chumbando se não tivesse tido a sorte de me ter calhado um professor só para mim que se sentia tão à vontade comigo até para brincar e que tive 16 na nota final!
    Foi no segundo e terceiro anos da licenciatura que tive as primeiras amizades com duas colegas fantásticas, porque juntos trabalhávamos lindamente e elas passavam-me os powerpoints para word o que não acontecia com os outros grupos. Tirámos as melhores notas. No entanto, a minha frustração continuava porque adorava Neuropsicologia mas não havia absolutamente nada para eu sentir... e os professores não me davam uma oportunidade de experimentar simular ser o psicólogo numa consulta, porque não podia ver como os colegas estavam, qual a sua postura, e ouvir era pouco..,
    Comecei a entrar em depressão e tomei antidepressivos durante cinco meses, substituindo-os pela psicoterapia.
    Entretanto, na cadeira de Psicologia da Educação sentia-me como um peixe na água, era o que eu queria, e os professores eram impecáveis! Davam-me oportunidades, eram muito atentos, arrajavam maneira de eu participar nas actividades, fazia provas orais e de escrita, os professores insistiam no desenvolvimento de competências , uma delas era o saber escutar o outro e usar os nossos sentidos para nosso enrequecimento.
    ´Deixei a ideia de psicólogo clínico, mas fiquei triste por ter de me separar das minhas amigas e dos meus amigos de curso que há pouco tempo tinjha feito e que tinha adorado!
    A minha média de licenciatura foi 15, uma nota estrondosa e rara pno ensino superior.
    No primeiro semestre do mestrado voltei a ficar decepcionado porque mais uma vez não podia aplicar provas de avaliação e só tive um 10 na cadeira de Exame e Consulta Psicológica. Mas nas cadeiras mais teóricas tive notas muito boas 15, 16 e 17.
    Agora que estou no segundo semestre falta-me pouco para começar o estágio e estou indeciso e preocupado onde poderei estagiar. Mas tenho conseguido apesar das minhas desilusões constantes, tudo foi difícil e doeu, mas o que eu aprendi foi que desistir teria sido a pior opção da minha vida quando estava apetrechado e podia muito bem encontrar outras formas de trabalhar como psicólogo.
    E estou aqui para vos ajudar, para vos dizer que tudo o que se consegue não é por acaso, porque somos nós que temos de dar o primeiro passo para que o resto nos ajude.
    Porque se não fossemos nós não estariam a ajudar-nos, a investir em nós e nos que nos seguirão futuramente.
    Reconheço que em relação a outros eu tive mais sorte, mas eu não estava a contar nada com os apoios porque muitos surdocegos são congénitos e têm lim itações cognitivas e o colégio de surdocegos não dava até eu aparecer este tipo de ajudas.

  • Marco Poeta comentou a entrada "Problemas de Acessibilidade no Ensino Superior" à 15 anos 1 mês atrás

    Olá Sofia!
    Já tens aqui alguns testemunhos de pessoas em situações semelhantes que passaram maus bocados no ensino superior mas que nem por isso perderam a sua força de vontade e fizeram valer as suas capacidades. Vou diexar-te também aqui o meu testemunho e que ele te ajude.
    Primeiro que tudo, quero dar-te ps parabéns e a todos os que tiveram coragem de tentar, sabendo perfeitamente que se iriam deparar com muitas barreiras, mas acreditando na mudança, que iriam conseguir mostrar que o mais importante não são as limitações mas a nossa capacidade de dar a volta aos problemas em vez de esperar que eles se resolvam sozinhos.
    Também quero felicitar a Isabel pela sua coragem imensa e força para não se ir abaixo de todo e mostrar de quem é limitado e coitadinhos são os outros que se estivessem no nosso lugar nem tentariam. Adorei o que a Patrícia disse, acho que tudo o que disse revela ser uma pessoa com uma sensibilidade e maturidade muito à frente de muitas pessoas que conheço e tenho a certeza que a Patrícia escolheu o curso certo, porque irá ajudar bastante as pessoas.
    Estou a estudar Psicologia da Educação e muito em breve farei um estágio. Além de cego total sou surdo profundo mas com um implante coclear saí do silêncio confrangedor e agora ouço o suficiente para ter uma conversa normal com os outros. Muito provavelmente se não tivesse tido a sorte de poder voltar a ouvir não estaria no ensino superior, porque surdocegos ninguém sabe o que são e muito menos que existem.
    Mas eu existo realmente, sou o primeiro surdocego de Portugal a conseguir entrar no ensino superior. E as pessoas dificilmente acreditaram que eu estava na universidade, porque normalmebte pessoas como eu ou ficam em casa ou em instituições para deficientes mentais.
    Vou contar a minha história e talvez fosse injusto da minha parte omitir que há também uma rapariga minha amiga chamada Joana que tem baixa-visão e é surda profunda como eu 8embora que não possa ser também implantada) que tirou o curso de Psicologia no mesmo ano que eu e que teve dificuldades superiores às de muitos de vocês e por mais incrível que pareça tem conseguido sozinha e com menos apoios do que eu. Vou-lhe dar a oportunidade e o direito de ser ela a contar as suas dificuldades mas também vitórias. É tão bonita e inteligente como a Helen Keller.

  • Marco Poeta comentou a entrada "A Bengala como símbolo e auxiliar" à 15 anos 1 mês atrás

    A bengala não é nada do outro mundo, mas sim como qualquer técnica de apoio.
    A nossa dignidade está toda centrada na nossa capacidade de vencer dificuldades que nos tornam sábios e dignos de respeito e nunca de piedade.
    Somos seres humanos exactamente porque temos projectos de vida que são o motivo pelo qual tudo o que está ao nosso alcance é válido para a nossa auto-realização, incluindo a bengala branca como auxiliar do nosso percurso e sucesso.
    A bengala não é um simples acessório à nossa independência, mas um objecto à nossa segurança pessoal, um objecto que nos torna os movimentos do andar mais fluídos e descontraídos, como se andássemos normalmente; é também um instrumento que nos sinaliza como peões com necessidades específicas (os videntes podem sentir pena ou indiferença mas isso para nós é irrelevante, o importante é que compreendam que precisamos de outro tipo de consideração mais racional).
    Há quem encare a bengala como uma experiência redutora da nossa imagem, mas essas representações estão muitas vezes baseadas em ideias pré-concebidas sem fundamento. A bengala é a nossa "espada" com a qual lutamos para atingirmos objectivos e sem treino e persistência nada disso é possível.
    O artigo que li e que vou ler mais vezes para me deleitar mostra exactamente o que a bengala é na realidade e por isso todos deviam ler!
    Foi bastante interessante, tocou todos os aspectos fundamentais e não foi preciso um testamento.
    Acho que devíamos ensinar os videntes a reconhecerem a bengala a sua utilidade e potencialidade, e explicar-lhes as três perguntas essenciais para um bom conhecimento: "o quê", "como" e "porquê".
    Muitas vezes as famílias (é o caso da minha) têm uma ideia pouco objectiva e pensam que a responsabilidade continua a ser sua, como se a bengala fosse um bem menor para a nossa libertação da superprotecção que, infelizmente, ainda acontece e é um entrave à nossa independência.
    Eu tive aulas de orientação e mobilidade e só com a prática diária foi-me possível libetar-me dos outros para fazer os meus percursos sozinho fora de casa, com suficiente à-vontade para ir onde quero. Mas mesmo assim continuo a ser protegido, ou seja, o medo da minha família é quase irracional, é um instinto protector que ficou de tal modo activado que é impossível não sentirem medo excessivo que me aconteça algo.
    Mas é verdade que a culpa não é dos outros, mas sim da falta de informação e este artigo que vou mostrar à minha família é excelente para debatermos o assunto, conhecendo melhor a bengala.

  • Marco Poeta comentou a entrada "A Bengala como símbolo e auxiliar" à 15 anos 1 mês atrás

    Para mim, a bengala é símbolo de liberdade e de possibilidade de sermos o menos dependentes possível.
    A bengala é uma extensão do nosso braço que alcança os objectos inferiores a tempo de tomarmos a decisão correcta.
    É mais triste estarmos sempre a ser agarrados pelos outros ou ficarmos retidos em casa, numa redoma de vidro.
    Mesmo com limitações auditivas não deixa de ser importante deslocar-me sozinho por sítio menos perigosos e que me são já familiares.
    Confidencio-vos que me sinto profundamente incomodado quando dizem que basta segurar o braço do guia e dobrar a bengala. Porque acontece que as pessoas (até mesmo familiares e amigos) se esquecem de pequenos obstáculos e não estamos a orientar-nos pelo cotovelo 8que é insuficiente sem a bengala) e depois pumba! ou tropeçamos ou nos estatelamos ao comprido...

  • Marco Poeta comentou a entrada "A Bengala como símbolo e auxiliar" à 15 anos 1 mês atrás

    Este é o melhor artigo que já li do LERPARAVER e que merece algumas considerações.
    Sou cego total e não tive grandes compexos com a bengala branca, que para mim representou um passo decisivo para a minha independência, mesmo que ela não seja total e esteja condicionada pela minha surdez.
    No entanto, não deixa de ser reconhecível o papel que a bengala tem nas nossas vidas, quer para nos desemaraçarmos de obstáculos, quer para ganharmos auto-estima e confiança em nós próprios.

  • Marco Poeta comentou a entrada "Invisual bate record de velocidade num Ferrari" à 15 anos 1 mês atrás

    Desafio que palavra incómoda...
    Prefiro ter o rabo seguro
    E ficar no meu cantinho
    A sonhar com o futuro
    Sem ter que tentar sozinho
    A sorte .
    Fico a cismar
    Que a vida que tenho
    É de claustro e de rezar
    Pelo paizinho que me faz a papinha
    E franze o cenho
    Quando chora a criancinha...
    Não sou capaz
    Não sou o que queria ser
    Já não vou crescer
    Mas encolher

    Pobre de mim!
    Não posso ter o que ambiciono
    Mole como o pudim
    Que se deixa comer pelos outros
    Que me topam como um ignorante
    E um sapinho amestrado
    Que faz as suas habilidades...
    Desafio que eu vou ser desafiado por ti,
    Ó terrífico Everest!
    Só te subo se tiver o equipamento de alpinista
    E sei que o perigo rapina
    Mas a adrenalina
    Da aventura, da curiosidade,
    A leveza do ar celeste...!
    Ainda não me afundei,
    Espera ó Vida,
    Não te vás embora,
    Tenho a cabeça erguida,
    Vou já, agora!

  • Marco Poeta comentou a entrada "Invisual bate record de velocidade num Ferrari" à 15 anos 1 mês atrás

    Metin dedicou a sua vitória a todos os deficientes visuais do mundo. Sabem porquê? Porque nada é impossível, e os cegos são pessoas absolutamente normais o que as diferencia dos outros é a sua coragem e capacidade de ver o desafio como uma oportunidade de mostrar o que são e o que valem!
    Valente Metin!!! A tua loucura é para mim a justificação para ñão seres como as mentes adormecidas e acomodadas, que diz o amigo Fernando Pessoa que quem está contente e satisfeito com a sua vidinha não quer partir à procura de si próprio.

  • Marco Poeta comentou a entrada "Invisual bate record de velocidade num Ferrari" à 15 anos 1 mês atrás

    Caro Metin,
    És significativo para mim
    Porque tiveste a ousadia
    De desafiar como um delfim
    O mar com a tua audácia!

    Estiveste perto da morte,
    Sozinho e entregue a ti mesmo.
    Terá sido um befejo da sorte
    Ou foi coragem mesmo?

    Eu penso que foi a tua imensa vontade
    Pois ela fez-te agarrar a vida com mais firmeza
    E ir em frente com autenticidade
    Olhando-te por dentro na tua inteireza!

    Parabéns Metin!

    Marco Branco, 07-05-10

  • Marco Poeta comentou a entrada "O meu testemunho de vida" à 15 anos 2 meses atrás

    Sabias que és resiliente?
    Porque perante as adversidades da tua vida procuraste soluções adaptativas que restaurassem o teu equilíbrio. Quando foste sujeito às dificuldades e privações, estiveste sobre tensão e pressão, procuraste "renascer" como uma fénix mais forte do que no início.
    É esta qualidade que tens que me faz admirar-te e é certíssimo que sozinhos não é fácil abrir novos caminhos para os outros, quando os nossos princípios são comuns só têm força se nos unirmos!
    Obrigado e igualmente!
    Abraço

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