Comentários efectuados por Marco Poeta
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Olá Aquilino!
Tens razão é mesmo muito mais rápido!
Obrigado!
Abraço
Chamo-me Marco, tenho 26 anos e sou implantado há 4 anos.
Estudei em escolas regulares, tive imensas dificuldades, poucos amigos, ficava muitas vezes sozinho nos intervalos, tinha aulas individualmente e os meus professores escreviam-me na palma da mão e no computador onde eu lia numa linha braille e os meus apontamentos eram impressos.
Apesar das minhas dificuldades, era um jovem interessado e esforçado, por vezes sacava melhores notas que muitos dos meus colegas. As matérias eram as mesmas e quando já no 12º comecei a ouvir a comunicação tornou-se mais fácil. Interessei-me pela literatura, desejando ser escritor e mais tarde pela Filsofia, mas o meu isolamento levou-me a escolher a Psicologia. O meu professor de Psicologia era cinco estrelas, porque tudo adaptava para mim e graças a ele foi possível colaborar numa aula de laboratório onde dissecámos cérebros de carneiro e eu pude tocar tudo à vontade sem sentir nojo.
Encontrei na Psicologia uma forma de me aprofundar e de ser útil aos outros e estava decidido a que pessoas como eu tivessem o direito de escolher o que queriam.
Terminei o 12º ano aparecendo no quadro de mérito com 18 valores e com um sorriso de orgulho.
Matriculei-me na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Coimbra, mas desisti ao constatar que as condições eram insuficientes para mim e que iria estar muito longe de casa, da família, meu principal apoio. Frustrado, decidi um curso profissional de massagista mas quando a Casa Pia entrou em contacto comigo e me disse poder ajudar-me, senti a esperança voltar e matriculei-me na Universidade Lusófona de Lisboa.
O colégio de surdocegos providenciou os apoios que eu iria necessitar, e tinha duas técnicas a trabalhar para mim, digitalizando-me a informação, convertendo-me os formatos dos textos de forma acessível e acompanhando-me às aulas, ajudando-me nas tarefas que exigiam observação e escrevendo-me na palma da mão palavras de que eu tinha dificuldade em ouvir. Eu era um sortudo, porque tinha todos os apoios técnicos mais avançados: um Pronto, um Poet Compact, uma impressora braille e outra de relevos, um portátil com linha braille e um FM que é um dispositivo que parece um microfone que o professor coloca ao pescoço e com outro dispositivo que se liga ao meu aparelho externo do implante coclear eu consigo ouvir sem interferências , mas a vantagem é que só ouço o professor e não os colegas.
Nos primeiros semestres não tinha amigos e os meus colegas eram obrigados a ficar comigo e não existia uma verdadeira comunicação entre nós. Estavam todos impressionados por ver um rapaz que de longe parecia normal mas que de perto era cego e surdo ao mesmo tempo e ninguém fazia ideia de que era a minha vida.
Muitas vezes desesperei e pensei em desistir, porque a universidade não tinha nada preparado para os cegos e muito menos no curso de Psicologia...
A minha desmoralização era tanta porque as aulas eram muito visuais e eu não podia fazer avaliação e muito menos observação...
Claro que estudava com afinco e chegava a sacar as melhores notas, passando a tudo e deixando os colegas mais impressionados. Mas eles continuavam a achar confuso um rapaz com as minhas limitações estar a tirar um curso superior.
Em relação aos meus professores, nenhum alguma vez contactou com um deficiente visual e só alguns se foram aproximando de mim, curiosos.
A estatística era para mim um obstáculo maior que as outras cadeiras, porque era num programa chamado SPSS nada acessível e eu ia chumbando se não tivesse tido a sorte de me ter calhado um professor só para mim que se sentia tão à vontade comigo até para brincar e que tive 16 na nota final!
Foi no segundo e terceiro anos da licenciatura que tive as primeiras amizades com duas colegas fantásticas, porque juntos trabalhávamos lindamente e elas passavam-me os powerpoints para word o que não acontecia com os outros grupos. Tirámos as melhores notas. No entanto, a minha frustração continuava porque adorava Neuropsicologia mas não havia absolutamente nada para eu sentir... e os professores não me davam uma oportunidade de experimentar simular ser o psicólogo numa consulta, porque não podia ver como os colegas estavam, qual a sua postura, e ouvir era pouco..,
Comecei a entrar em depressão e tomei antidepressivos durante cinco meses, substituindo-os pela psicoterapia.
Entretanto, na cadeira de Psicologia da Educação sentia-me como um peixe na água, era o que eu queria, e os professores eram impecáveis! Davam-me oportunidades, eram muito atentos, arrajavam maneira de eu participar nas actividades, fazia provas orais e de escrita, os professores insistiam no desenvolvimento de competências , uma delas era o saber escutar o outro e usar os nossos sentidos para nosso enrequecimento.
´Deixei a ideia de psicólogo clínico, mas fiquei triste por ter de me separar das minhas amigas e dos meus amigos de curso que há pouco tempo tinjha feito e que tinha adorado!
A minha média de licenciatura foi 15, uma nota estrondosa e rara pno ensino superior.
No primeiro semestre do mestrado voltei a ficar decepcionado porque mais uma vez não podia aplicar provas de avaliação e só tive um 10 na cadeira de Exame e Consulta Psicológica. Mas nas cadeiras mais teóricas tive notas muito boas 15, 16 e 17.
Agora que estou no segundo semestre falta-me pouco para começar o estágio e estou indeciso e preocupado onde poderei estagiar. Mas tenho conseguido apesar das minhas desilusões constantes, tudo foi difícil e doeu, mas o que eu aprendi foi que desistir teria sido a pior opção da minha vida quando estava apetrechado e podia muito bem encontrar outras formas de trabalhar como psicólogo.
E estou aqui para vos ajudar, para vos dizer que tudo o que se consegue não é por acaso, porque somos nós que temos de dar o primeiro passo para que o resto nos ajude.
Porque se não fossemos nós não estariam a ajudar-nos, a investir em nós e nos que nos seguirão futuramente.
Reconheço que em relação a outros eu tive mais sorte, mas eu não estava a contar nada com os apoios porque muitos surdocegos são congénitos e têm lim itações cognitivas e o colégio de surdocegos não dava até eu aparecer este tipo de ajudas.
Olá Sofia!
Já tens aqui alguns testemunhos de pessoas em situações semelhantes que passaram maus bocados no ensino superior mas que nem por isso perderam a sua força de vontade e fizeram valer as suas capacidades. Vou diexar-te também aqui o meu testemunho e que ele te ajude.
Primeiro que tudo, quero dar-te ps parabéns e a todos os que tiveram coragem de tentar, sabendo perfeitamente que se iriam deparar com muitas barreiras, mas acreditando na mudança, que iriam conseguir mostrar que o mais importante não são as limitações mas a nossa capacidade de dar a volta aos problemas em vez de esperar que eles se resolvam sozinhos.
Também quero felicitar a Isabel pela sua coragem imensa e força para não se ir abaixo de todo e mostrar de quem é limitado e coitadinhos são os outros que se estivessem no nosso lugar nem tentariam. Adorei o que a Patrícia disse, acho que tudo o que disse revela ser uma pessoa com uma sensibilidade e maturidade muito à frente de muitas pessoas que conheço e tenho a certeza que a Patrícia escolheu o curso certo, porque irá ajudar bastante as pessoas.
Estou a estudar Psicologia da Educação e muito em breve farei um estágio. Além de cego total sou surdo profundo mas com um implante coclear saí do silêncio confrangedor e agora ouço o suficiente para ter uma conversa normal com os outros. Muito provavelmente se não tivesse tido a sorte de poder voltar a ouvir não estaria no ensino superior, porque surdocegos ninguém sabe o que são e muito menos que existem.
Mas eu existo realmente, sou o primeiro surdocego de Portugal a conseguir entrar no ensino superior. E as pessoas dificilmente acreditaram que eu estava na universidade, porque normalmebte pessoas como eu ou ficam em casa ou em instituições para deficientes mentais.
Vou contar a minha história e talvez fosse injusto da minha parte omitir que há também uma rapariga minha amiga chamada Joana que tem baixa-visão e é surda profunda como eu 8embora que não possa ser também implantada) que tirou o curso de Psicologia no mesmo ano que eu e que teve dificuldades superiores às de muitos de vocês e por mais incrível que pareça tem conseguido sozinha e com menos apoios do que eu. Vou-lhe dar a oportunidade e o direito de ser ela a contar as suas dificuldades mas também vitórias. É tão bonita e inteligente como a Helen Keller.
A bengala não é nada do outro mundo, mas sim como qualquer técnica de apoio.
A nossa dignidade está toda centrada na nossa capacidade de vencer dificuldades que nos tornam sábios e dignos de respeito e nunca de piedade.
Somos seres humanos exactamente porque temos projectos de vida que são o motivo pelo qual tudo o que está ao nosso alcance é válido para a nossa auto-realização, incluindo a bengala branca como auxiliar do nosso percurso e sucesso.
A bengala não é um simples acessório à nossa independência, mas um objecto à nossa segurança pessoal, um objecto que nos torna os movimentos do andar mais fluídos e descontraídos, como se andássemos normalmente; é também um instrumento que nos sinaliza como peões com necessidades específicas (os videntes podem sentir pena ou indiferença mas isso para nós é irrelevante, o importante é que compreendam que precisamos de outro tipo de consideração mais racional).
Há quem encare a bengala como uma experiência redutora da nossa imagem, mas essas representações estão muitas vezes baseadas em ideias pré-concebidas sem fundamento. A bengala é a nossa "espada" com a qual lutamos para atingirmos objectivos e sem treino e persistência nada disso é possível.
O artigo que li e que vou ler mais vezes para me deleitar mostra exactamente o que a bengala é na realidade e por isso todos deviam ler!
Foi bastante interessante, tocou todos os aspectos fundamentais e não foi preciso um testamento.
Acho que devíamos ensinar os videntes a reconhecerem a bengala a sua utilidade e potencialidade, e explicar-lhes as três perguntas essenciais para um bom conhecimento: "o quê", "como" e "porquê".
Muitas vezes as famílias (é o caso da minha) têm uma ideia pouco objectiva e pensam que a responsabilidade continua a ser sua, como se a bengala fosse um bem menor para a nossa libertação da superprotecção que, infelizmente, ainda acontece e é um entrave à nossa independência.
Eu tive aulas de orientação e mobilidade e só com a prática diária foi-me possível libetar-me dos outros para fazer os meus percursos sozinho fora de casa, com suficiente à-vontade para ir onde quero. Mas mesmo assim continuo a ser protegido, ou seja, o medo da minha família é quase irracional, é um instinto protector que ficou de tal modo activado que é impossível não sentirem medo excessivo que me aconteça algo.
Mas é verdade que a culpa não é dos outros, mas sim da falta de informação e este artigo que vou mostrar à minha família é excelente para debatermos o assunto, conhecendo melhor a bengala.
Para mim, a bengala é símbolo de liberdade e de possibilidade de sermos o menos dependentes possível.
A bengala é uma extensão do nosso braço que alcança os objectos inferiores a tempo de tomarmos a decisão correcta.
É mais triste estarmos sempre a ser agarrados pelos outros ou ficarmos retidos em casa, numa redoma de vidro.
Mesmo com limitações auditivas não deixa de ser importante deslocar-me sozinho por sítio menos perigosos e que me são já familiares.
Confidencio-vos que me sinto profundamente incomodado quando dizem que basta segurar o braço do guia e dobrar a bengala. Porque acontece que as pessoas (até mesmo familiares e amigos) se esquecem de pequenos obstáculos e não estamos a orientar-nos pelo cotovelo 8que é insuficiente sem a bengala) e depois pumba! ou tropeçamos ou nos estatelamos ao comprido...
Este é o melhor artigo que já li do LERPARAVER e que merece algumas considerações.
Sou cego total e não tive grandes compexos com a bengala branca, que para mim representou um passo decisivo para a minha independência, mesmo que ela não seja total e esteja condicionada pela minha surdez.
No entanto, não deixa de ser reconhecível o papel que a bengala tem nas nossas vidas, quer para nos desemaraçarmos de obstáculos, quer para ganharmos auto-estima e confiança em nós próprios.
Desafio que palavra incómoda...
Prefiro ter o rabo seguro
E ficar no meu cantinho
A sonhar com o futuro
Sem ter que tentar sozinho
A sorte .
Fico a cismar
Que a vida que tenho
É de claustro e de rezar
Pelo paizinho que me faz a papinha
E franze o cenho
Quando chora a criancinha...
Não sou capaz
Não sou o que queria ser
Já não vou crescer
Mas encolher
Pobre de mim!
Não posso ter o que ambiciono
Mole como o pudim
Que se deixa comer pelos outros
Que me topam como um ignorante
E um sapinho amestrado
Que faz as suas habilidades...
Desafio que eu vou ser desafiado por ti,
Ó terrífico Everest!
Só te subo se tiver o equipamento de alpinista
E sei que o perigo rapina
Mas a adrenalina
Da aventura, da curiosidade,
A leveza do ar celeste...!
Ainda não me afundei,
Espera ó Vida,
Não te vás embora,
Tenho a cabeça erguida,
Vou já, agora!
Metin dedicou a sua vitória a todos os deficientes visuais do mundo. Sabem porquê? Porque nada é impossível, e os cegos são pessoas absolutamente normais o que as diferencia dos outros é a sua coragem e capacidade de ver o desafio como uma oportunidade de mostrar o que são e o que valem!
Valente Metin!!! A tua loucura é para mim a justificação para ñão seres como as mentes adormecidas e acomodadas, que diz o amigo Fernando Pessoa que quem está contente e satisfeito com a sua vidinha não quer partir à procura de si próprio.
Caro Metin,
És significativo para mim
Porque tiveste a ousadia
De desafiar como um delfim
O mar com a tua audácia!
Estiveste perto da morte,
Sozinho e entregue a ti mesmo.
Terá sido um befejo da sorte
Ou foi coragem mesmo?
Eu penso que foi a tua imensa vontade
Pois ela fez-te agarrar a vida com mais firmeza
E ir em frente com autenticidade
Olhando-te por dentro na tua inteireza!
Parabéns Metin!
Marco Branco, 07-05-10
Sabias que és resiliente?
Porque perante as adversidades da tua vida procuraste soluções adaptativas que restaurassem o teu equilíbrio. Quando foste sujeito às dificuldades e privações, estiveste sobre tensão e pressão, procuraste "renascer" como uma fénix mais forte do que no início.
É esta qualidade que tens que me faz admirar-te e é certíssimo que sozinhos não é fácil abrir novos caminhos para os outros, quando os nossos princípios são comuns só têm força se nos unirmos!
Obrigado e igualmente!
Abraço
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