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Comentários efectuados por Marco Poeta

  • Marco Poeta comentou a entrada "Novas Tecnologias - Preciso da vossa colaboração" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá, Filipe!

    Vou tentar responder às tuas questões.

    Supernova 12: sintetizador de voz para o o Windows 7

    Através do Foco Virtual (espécie de cursor que não aparece em certas aplicações) é possível navegar em janelas, páginas html, documentos Pdf, aplicações como o Skype, Mozilla Firefox e o Hotmail.

    Possui vários sintetizadores de voz: Orpheus Sintetizer, Eloquence, Real Speak Solo e Localizer. As vozes do Real Speak Solo e do Localizer são bastante próximas da voz humana, e o Supernova possui a vantagem de tornar a velocidade da leitura de documentos mais lenta e pausada para pessoas com deficiência auditiva ou com paralisia cerebral..

    Também ajuda muito com a opção verbosidade alta, porque nos permite ter uma informação mais etalhada. Soletra as palavras quando não compreendemos devido a dificuldades auditivas e possui outros sintetizadores de voz em espanhol e inglês, bastante úteis na leitura de documentos estrangeiros e na aprendizagem dessas mesmas línguas.

    O Supernova possui o Sam, um controlador de linhas braille para que estas acompanhem simultaneamente a voz e o Foco Virtual Dolphin.

    Braille Voyager, é uma linha braille que possui teclado braille, teclas de navegação e uma linha braille de 44 células. Converte a informação no código Braille, permite percorrer textos word, excel, html e pdf linha a linha. A varredura do texto é feita com as teclas do painel frontal da Braille Voyager, bem como possui setas direccionais para navegar nas aplicações sem necessidade o teclado de computador convencional.

    Index Braille Everest, é uma impressora braille de fabrico sueco e líder mundial no mercado de impressoras braille.

    A Everest imprime com extrema qualidade e a durabilidade dos pontinhos é muito boa. Concebida para imprimir em série, possui um painel frontal em braille e em voz para uma máxima autonomia dos utilizadores com deficiência visual ou com deficiência auditivovisual..

    Além disso, imprime dos dois lados da folha e em vários formatos: text normal, texto com tabelas, gráficos, colunas, mbora simples e sem muitos detalhes.

    Imprime textos da Internet, arquiva na memória dados para impressões posteriores, imprime de acordo com a grafia braile de vários países e imprime folhas com vários tamanhos e tem uma câmara que tira as medidas do papel.

    Vantagens:

    1: Conferem grande autonomia aos seus utilizadores;
    2: Permitem uma maior acessibilidade à informação;
    3: Facilitam a comunicação entre pessoas com deficiência e pessoas com ou sem ela (Professores, amigos, colegas de trabalho, familiares e scom a sociedade em geral);
    4: Permitem a educação, formação profissional, a comunicação e o acesso equitativo à informação;
    5: Proporcionam uma maior inclusão social e profissional, bem como melhoram a qualidade de vida, impedem o isolamento, ajudem na sociabilidade e são uma forma de lazer (leitura de livros, jornais, artigos, etc) e de cultura e convívio (Skype, grupos de discussão, etc).

    Desvantagens:

    1: São extemamente caros e as prescrições médicas destes equipamentos tendem a diminuir;
    2: A formação é paga pelos que adquiriram os equipamentos;
    3: Não lêem em pdf não acessíveis, páginas que não seguem as normas de acessibilidade, não reconhecem gráficos ou imagens;
    4: Um CD com a actualização do Supernova (contém 5 licenças) custa 225 euros, embora só seja necessário se as aplicações (ex.: Internet Explorer) o requererem para uma completa compatibilidade com o sistema;
    5: O Google éo navegador mais indicado para utilizadores de leitores de ecrã e de linha braille.

    Pronto, espero ter ajudado com exemplos concretos.

    Abraço

  • Marco Poeta comentou a entrada "Novas Tecnologias - Preciso da vossa colaboração" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá, Filipe!

    Talvez a minha contribuição possa ajudar-te no trabalho que estás a desenvolver sobre a importância das novas tecnologias na reabilitação e inclusão das pessoas com deficiência.

    Vou falar de como as novas tecnologias foram inprescindíveis para a realização dos meus estudos, comunicação e interacção com os outros, também com deficiência ou sem ela.

    Sou surdocego adquirido desde os 16 anos altura em que ceguei completamente. Era surdo bilateral profundo e tinha imensas dificuldades na comunicação e interacção com os meus colegas, amigos e familiares. Além disso, nem toda a gente sabia Braille e língua gestual.

    Na escola, nenhum professor estava preparado para me ensinar e eu sentia-me muito infeliz, porque queria tanto como os outros ter estudos superiores e uma vida independente...

    Há 2 anos que esperava ansiosamente por um computador equipado, mas ele nunca chegou, nunca o Ministério da Educação me proporcionou os equipamentos adequados para a minha autonomia e qualidade de vida...

    Foi a Gulbenkian que, sensibilizada com a minha situação e impossibilidade de continuar a frequentar escolas regulares, me disponibilizou uma linha Braille e uma impressora em Braille.

    A partir daí, tive acesso aos apontamentos, às matérias e a toda a informação disponvel e acessível na Internet. No entanto, o mais importante de tudo é que os meus professores já podiam comunicar comigo, escrevendo no teclado normal onde a informação aparecia em Braille na linha Braille.Também já era possível eu fazer os testes no computador e depois os meus professores os levarem na disquete ou pen para corrigir em casa.

    Foi como se muitas janelas se tivessem aberto para mim. Porque foi através das novas tecnologias específicas para pessoas cegas e surdocegas que conheci o Lerparaver e fiz boas e duradouras amizades. Criei n«nesse site o meu blogue, porque era muito acessível e finalmente podia divulgar a minha poesia, bem como trocar experiências e ideias com outras pessoas.

    Com estas condições, conclui os meus estudos com muito êxito e pude dar largas à minha escrita. Muitos livros digitalizados passaram-me pelos dedos, o que foram momentos de um indiscritível prazer e os quais ajudaram-me bastante no meu desenvolvimento cognitivo.

    Graças ao Supernova, à Everest e à Braille Voyager hoje posso aceder às redes sociais e a um leque muito amplo de informação útil. Já não me sinto tão sozinho e isolado do mundo, ocupo os meus tempos livres co a escrita e comunico com os meus amigos.

    Considero que, sem as tecnologias assistivas, não teria sido possível sair domeu casulo de silêncio e de escuridão, interagir com os outros, realizar os meus estudos universitários, vencer muitas barreiras físicas e algumas atitudinais, ter conhecido muitas pessoas maravilhosas e dar a conhecer o meu sonho de poeta.

    E, para finalizar, as tecnologias específicas podem ser a ferramenta por excelência para nós termos um emprego num tempo cada vez mais dominado pelas tecnologias da informação.

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá, Filipe!

    Boas críticas juntaste às minhas e às da Joana, porque fundamentam o que temos aqui discutido. Pena que têm sido muito poucos que têm participado com as suas experiências no terreno da inclusão...

    Tem de ser, amigo, se nós não lutarmos é que não conseguimos mesmo ter os nossos direitos respeitados! E há diversas maneiras de o fazermos, só não podemos ficar calados e deixar que nos tratem como debéis mentais!

    Carago, quando é que nos dão oportunidade de termos voz activa nos congressos, seminários e outras palestras sobre inclusão? Acaso são os médicos e outros profissionais que sentem na pele o que a falta de condições e a discriminação negativa que nós semtimos na escola, no trabalho, na nossa área de residência e em todo o lado?

    Diz-me se te deixaram falar nos congressos e nos seminários da Fraternidade? Ou falaram por ti e por outras pessoas sem, no entanto, perceberem o que estavam a dizer? É mais fácil falarem como se estivessem a dar uma palestra a outros especialistas do que para as pessoas vulgares que são a maioria da sociedade.

    Tu e os outros da Fraternidade fizeram muito bem em bater o pé e serem também ouvidos. Muita gente que vê de fora a pessoa, forma uma ideia errada dela, e se estivermos atentos fala-se mais da deficiência do que da própria pessoa...

    Já reparaste que em quase todos os discursos se fala mais da deficiência, de sintomas e causas em vez da pessoa? Ela é um problema porque a sua deficiência é uma problemática em vez de a sua inclusão ser um direito e dever de todos.

    Enquanto se pensar que somos um problema para os outros resolverem, pouco se avançará na dimensão da pssoa humana a toos os níveis, porque o que nós representamos para os outros é a deficiência, um problema mais médico do que social.

    Por isso, é que a nossa presença enquanto pessoas é tão fundamental para que se perceba que, apesar das limitações, SOMOS PESSOAS COM AS MESMAS NECESSIDADES, SONHOS, SENTIMENTOS E IDEAIS QUE OS OUTROS.

    Abraço

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá, Joana!

    Tens razão, porque só lendo braille com os dedos é que aprendemos a forma correcta como se escrevem as palavras. Tive amigos cegos que escreviam as palavras como as ouviam, incluindo em língua estrangeira. Também eu prefiro ler um livro em papel do que falado, mas ambas as alternativas são muito úteis, porque quando um livro não está em braille, sempre posso ouvi-lo.

    Sou licenciado em Psicologia e possuo o primeiro ano de mestrado em Psicologia da Educação, mas interrompi o segundo ano por motivos pessoais. Apenas poss dizer que uns dos motivos foi a frustração que experimentava por ser uma profissão muito visual e por eu ter algumas dificuldades auditivas, e por ser um curso com mais oferta e pouca procura e nestes tempos ter uma taxa muito alta de desemprego.

    Mas mesmo assim gostei muito e considero que a Psicologia ajuda bastante nas nossas relações com os outros e a termos uma postura mais adequada nas diferentes situações e conflitos do dia-a-dia. É também podemmos ter mais conhecimentos e trabalhar com todo o tipo de profissões.

    Beijos

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá, Joana!

    Gostei muito da tua história e mão te preocupes, porque percebi tudo.

    Vejo que és uma pessoa determinada e com garra, assim vai ser mais fácil aprenderes Braille e muitas coisas úteis.

    Não te preocupes, isso de teres pouca sensibilidade para ler Braille é normal. Tens de estimulá-la todos os dias e, se tiveres dificuldades, hoje em dia podes fazer tudo com um leitor de ecrã e ouvir áudiolivros ou livros digitalizados que poderás requisitar na Biblioteca Nacional e na Biblioteca de Gaia.

    Agrada-me saber que és professora e com muita experiência na educação de jovens com baixa-visão. Eu também já tive baixa-visão e não tinha qualquer ap Oio do Ministério da Educação, nem tão-pouco um professor de ensino especial da +área da deficiência visual. E auditiva. Mas, ao contrário dos teus alunos, eu não tive grandes complexos na altura adolescente, mesmo usando uns óculos muito graduados e horrorosos e me auxiliando de uma lupa igualmente grossa. E mesmo assim continuava a ver mal e tinham de fotoopiar-me tudo muito ampliado. Para escrever, usava um marcador preto e muito grosso e fazia as letras muito grandes.

    A verdadeira vergonha que tinha não era de ser surdo e de ver bastante mal, mas de ter uma grande cicatriz na barriga em consequência de um acidente que tive aos 8 anos.

    O que não aceitei foi a perda iminente da visão, porque já era muito mau não ouvir nada...

    Pois, também as minhas professoras de apoio tiveram de aprender por elas próprias e muitas vezes era eu que as ajudava a descodificar os pontinhos.

    Contudo, eu tinha muita necessidade de apoios e olha que o computador adptado não foi o Ministério da Educação que mo arranjou, mas os peditórios que os alunos da minha escola fizeram. E o dinheiro desapareceu misteriosamente, porque foi a Fundação Gulbenkian que deu os equipamentos que a minha escola não me queria dar quando terminasse o secundário.

    Foi tudo um mistério, mas felizmente o novo director disse-me que podia levar a impressora e o erminal Braille para casa, porque eu era o único aluno cego e surdo e ia precisar deles para prosseguir os estudos universitários e também para ter um emprego e não me esquecer do que aprendi.

    Fiquei muito satisfeito por teres uma qualidade que poucos professores têm, que é aprender Braille e língua gestual, porque nunca se sabe que alunos podem aparecer e seria triste deixá-lo a um canto da sala e sem oportunidade de aprender como os outros...

    Foi o que aconteceu comigo e em parte tenho culpa por não ter sido mais reivindicativo, mas o mais engraçado foi que, depois de ter ficado surdocego, passei a ser mais marrão e a brilhar!

    E se não tivesse sido teimoso e mostrado o que era capaz, não teriam notado e eu não teria feito o 12º ano e tirado um curso superior.

    Os nossos exemplos de determinação podem ajudar bastante aqueles que se sentem menos capazes, porque também já me senti assim, mas como sou um apaixonado pela vida e um teimoso de primeira, lá fui conseguindo. E espero ajudar os outros, porque não há maior prazer do que reacender sorrisos!

    Estou aqui para vos ajudar e dar a minha amizade. É isso que me faz ser útil e feliz!

    Beijos

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá Joana!

    Obrigado por dares força às minhas palavras e às do Professor Francisco Lima.

    Fiquei curioso por te perguntar qual é a tua especialização e que com que crianças trabalhas?

    As tuas críticas são cruas verdades e espero que incomodem o maior número possível de pessoas!

    Eu saí do Congresso com a cabeça mais cheia de perguntas do que de respostas. Foi realmente interessante, mas podia ter tido mais divulgação e se ter cingido mais à temática da surdocegueira, porque sobre cegueira e surdez há muita literatura disponível e toda a gente sabe o que são.

    Foi triste e mal não terem dado oportunidade a mais pessoas e às suas famílias de partilharem em primeira pessoa o que é ser surdocego e as dificuldades sentidas. Só me pediram para ler um poema com 10 minutos.

    Teria sido super interessante ouvir testemunhos de crianças, jovens e adultos surdocegos congénitos e adquiridos para dar mais força às comunicações dos profissionais. Mas não escondo a minha indignação contra as senhoras e os senhores doutores que julgam que sabem mais de surdocegueira do que muitas famílias e pessoas surdocegas!

    Os discursos são os mesmos na essência, só mudam na forma. Falou-se de inclusão, mas para pessoas cegas ou surdas, e não com as duas limitações…

    A jornalista da SIC não conteve o riso quando disse que as finalidade das reportagens sobre deficiência não era criar sensação. Mas parece que o riso a traiu. É mais interessante continuar a passar a imagem do deficiente coitadinho.

    Não me fez diferença a presença da primeira dama, que sim, isso interessa mais à imprensa.

    Uma ideia ficou-me bem gravada na mente: todos somos diferentes, a diferença não existe só nas pessoas com deficiência, mas em todos. Somos sufocados pela normalidade e tudo o que se desvia dela é encarado como algo de muito negativo e susceptível de segregação.

    A culpa está na educação e no pouco interesse na educação para a cidadania e respeito pela diversidade humana.

    E nós, pessoas com deficiência, devíamos parar de pensar que a deficiência é uma fatalidade e esperar que sejam sempre os outros a tomar a iniciativa por nós.

    Beijos

  • Marco Poeta comentou a entrada "Dúvida Impressora Braille Evereste 2" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá Joana e Filipe!

    Muito obrigado pela vossa preciosa ajuda!

    É verdade, a Everest de segunda geração só tem porta paralela. Como os portáteis atuais não têm porta paralela, tenho que comprar um adaptador de USB para paralelo.

    Na Electrosertec, um adaptador desses custa 20 euros. O preço do adaptador que vocês encontraram é bastante mais barato, mas tenho receio de não ser compatível com a minha impressora... Além disso, disseram-me ma mesma loja de informática e de equipamentos para pessoas com deficiência visual que havia sempre uma margem de risco de que a impressora não gostasse do adaptador. Não era provável, mas tínhamos que prever essa hipótese. Nesse caso não poderiam retomar o adaptador porque é um produto que só se vende em casos específicos...

    Ainda levam mais 20 euros para configurar o adaptador e o software compatível com o Windows 7... Mas primeiro vou tentar sozinho ou com a ajuda e alguém que veja, senão ainda peço ao Filipe que me ajude.

    O software compatível com o Windows 7 é o Braillefácil, um programa brasileiro gratuito. O software que eu tinha era o Winbraille, mas disseram-me que ele só era compatível com o XP, que já dnão é comercializado.

    Quanto à qualidade da mpressão através do Braillefácil, disseram-me que era boa.

    Agora só me resta tentar. Depois digo-vos. Isto pode ser útil e ajudar outras pessoas que não tenham condições financeira para comprar tecnologias indispensáveis à sua integração social e profissional, para não dizer que são extremamente caras.

    Abraços

  • Marco Poeta comentou a entrada "Aluno Surdo-cego precisa de apoio" à 11 anos 6 meses atrás

    Olá!

    Se calhar é o mesmo menino surdocego congénito de que me falaram, porque a história é a mmesma e, nfelizmente, em Portugal há muitos poucos professores especializados em surdocegueira, talvez por o número de pessoas com essa deficiência mal reconhecida serem poucas.

    A falta de especialização condiciona muito a reabilitação destas pessoas, pelo que, em vez de progredirem, regridem...

    Entendo a revolta da mãe do Pedrinho, mas têm feito tudo para lhe proporcionar uma vida digna. Sei que é muito difícil para ela não comunicar com o filho, por desconhecimento da língua gestual mão na mão e do Braille. Que eu saiba, os professores de ensino especial só sabem o básico e têm uma visão muito geral sobre a multideficiência e em particular da surdocegueira.

    Só quem é surdcego e venceu na vida conhece bem as formas de reabilitação de surdocegos. No caso do Pedrinho, que é surdocego congénito e que têm outras deficiências associadas, é preciso estimular as capacidades que lhe restam, nem que ele tenha alguns resíduos auditivos ou visuais.

    Eu terei todo o gosto em ajudá-lo caso me procurem. Estamos no mesmo concelho, o que é mais fácil. Com os meus conhecimentos em Psicologia da Educação, bem como com o meu conhecimento profundo de Braille, a minha experiência com crianças e jovens surdocegos, conhecimentos de equipamentos tiflotécnicos e de língua gestual grau 1, penso que reúno as competências exigidas para fazer um voluntariado.

    Honestamente, não tenho licenciatura em Educação Especial, mas o diploma não serve para nada sem a experiência pessoal e profissional. Muitas pessoas tiram cursos mas só sabem na teoria, e uma pessoa que vive na pele a surdocegueira e sabe que pode aprender se for estimulada para iso é, para mim, doutorada em surdocegueira.

    Também o êxito do Pedrinho vai depender muito do envovimento dos pais, dos professores e de toda a gente. Porque sem motivação e sem entrega nada feito! E o Pedro terá de mostrar que possui alguma capacidade. E, por mais pequena que ela seja, deve ser tida em conta e trabalhada.

    Estas crianças precisam de muita atenção e sobretudo de serem amadas. Não basta ser um bom profissional, é preciso desenvolver uma relação de empatia e de confiança, necessárias à aprendizagem de competências interpessoais.

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Prezado Prof. Francisco Lima:

    Mais uma vez, muito obrigado por complementar o meu post com as suas críticas infelizmente verdadeiras.

    Este assunto, que nos diz respeito, tem muito pano para mangas e levaríamos dias, semanas, meses ou até anos para abordar um tema que nos é muito caro: a inclusão, a nossa inclusão, uma vez que não estamos ainda plenamente integrados na comunidade à qual pertencemos.

    Mas permita-me dizer-lhe que lhe agradeço o elogio, mas honestamente não sou professor formado pela universidade, mas sim pela vida, a nossa verdadeira escola.

    Porque conheço pessoas simples e de poucos estudos académicos, mas que são verdadeiros sábios, mais sábios do que muita gente com diplomas universitários!

    A minha mãe, que apenas tinha a primária, era exemplo disso. Os seus pensamentos eram de uma verdade assombrosa e ela não precisou de livros para entender as coisas. Pelo contrário, eu precisei de muito tempo para entender as coisas e tomei consciência que os livros eram apenas pistas para o conhecimento, mas que tínhamos de ser nós próprios a passar pelas coisas para as entender e amar.

    E não é preciso ser-se doutorado para entender que muito pouco do que se diz por aí sobre inclusão tem sido posto em prática. E se eu estiver exagerando, agradeço que me contradigam, porque posso estar enganado e a ser injusto.

    Não pretendo ofender ninguém, mas se queremos sinceramente mudar o mundo, temos de ser criativos e encontrar soluções realistas. E já agora faço-vos um convite para partilharem aqui a vossa imaginação criadora, porque assimestaremos a mudar as nossas atitudes fazendo mais do que falando!

    E que tal criarmos aqui no Lerparaver uma secção destinada a agregar ideias com soluções práticas? A secção poderia chamar-se "Soluções práticas para problemas práticos", para não se tornar algo especulativo?

    Tenho reparado que há aqui muita informação com dicas e sugestões sobre várias temáticas, tais como vida diária, informática, Orientação e mobilidade, etc. Mas falta uma oficina de ideias sobre inclusão em otras áreas, tais como Comunicação Alternativa, Audiodescrição, Braille, etc.

    Sou muito chato, mas temos de aproveitar ao méximo os recursos disponíveis e parar de pensar que o dinheiro resolve tudo!

    Amigo Francisco e quem estiver a ler estas palavras, ando a pensar pôr a minha poesia ao serviço de causas sociais, em vez de escrever só sobre mim, que isso é só aumentar o amor-próprio! A poesia devia ser uma ponte para aproximar as pessoas, despertando nelas os sentimentos do afecto, da amizade, da cooperação, da solidariedade para com os mais necessitados, da denúncia das injustiças e desigualdades que empobrecem o espírito e atrasam o progresso daa humanidade com H maiúsculo.

    Poetas vaidosos que escrevem exclusivamente para alimentar a sua vaidade não merecem ser chamados de poetas. Se Deus deu ao Homem a capacidade de escrita, foi para ajudar os homens a espalharem mais rapidamente a Sua mensagem de Luz e Amor.

    Pôr a minha poesia ao serviço da humanidade vai ser a minha missão e não o digo da boca para fora! Já tenho poemas que apelam à sensibilidade e ao coração, onde reside a verdadeira visão e audição.

    E, com a minha limitada formação em Psicologia, foi-me feito um desafio: ensinar Braille a uma criança surdocega. Terei de ser criativo, porque não existem receitas feitas, nem os manuais de Psicologia me vão dizer o que fazer. Vou contar muito com a minha experiência como surdocego e recordar tudo o que aprendi com os meus professores surdocegos e surdos.

    Humildemente sei pouco e é uma virtude ser humilde, porque trabalha-se com mais honestidade e damos o melhor de nós. Já tive a oportunidade de fazer um voluntariado, mas fui afastado, creio por inveja. A justificação que me deram foi que o meu método não era o mais correcto, mas vim a saber que estava certo, que estava a ensinar da forma mais fácil as letras que se podem formar com os pontos da fila da esquerda.

    E o que tenho de melhor que um professor de ensino especial não tem é a capacidade de entender perfeitamente as necessidades de quem não ouve, nem vê nada.

    Abraços

  • Marco Poeta comentou a entrada "Um surdocego sem papas na língua" à 11 anos 6 meses atrás

    Prezado amigo Francisco,

    Fico satisfeito por alguém ter tido a coragem de comentar este post.

    Não falo só por mim, falo por muitos mais aos quais não lhes é dada a oportunidade de falar do outro lado que a sociedade desconhece. Nós também devíamos dar o primeiro passo em vez de nos conformarmos ou nos sujeitarmos!

    De discursos e projetos de inclusão estamos saturados, mas na prática pouco se tem feito. E o dinheiro que se gasta nessas coisas podia muito bem ser utilizado na aquisição de ajudas técnicas e de formações profissionais de pessoas com necessidades específicas.

    Tenho consciência que as minhas críticas vão incomodar muita gente e ainda bem! Não nos devemos calar, mesmo que isso signifique fazer inimigos, mas é nas contrariedades que se conhecem os verdadeiros amigos!

    Como o amigo Francisco disse e bem, em todo o sítio as pessoas se aproveitam das que têm uma deficiência para atingir os seus interesses, tais como poder, fama, etc. Mas, para mim, não há maior bem no mundo senão fazer o bem pelos outros. Bem que nos torna verdadeiros seres humanos em completa fraternidade.

    É preciso ter coragem para dizer o que está mal para que os mesmos erros não se repitam no futuro.

    E é preciso ter sensibilidade para estar dentro das coisas e não de conhecimentos vazios, porque só faz sentido aquilo que se experiencia com a vida!

    No entanto, com as minhas críticas não pretendo criar divisões e guerras, mas sim alertar urgentemente aqueles que têm posições para proporcionar uma vida mais equitativa e justa para as pessoas com deficiência.

    Reconheço que o tempo foi escasso no Congresso Nacional e que se abordaram várias temáticas de extrema importância, mas certos discursos ficaram aquém das expectativas de muita gente que esperava algo mais de radical. Foram muitas as promessas de inclusão, mas esperemos para ver se não irão ficar fechadas na gaveta como tem acontecido.

    Não creio que seja por falta de fundos, porque os fundos que temos recebido do Fundo Europeu e do Estado nem sempre são bem aplicados nas áreas mais prementes.

    E uma verdade: os recursos disponíveis não estão a ser aproveitados cem por cento, porque não estão acessíveis a quem deles mais precisa... Devia existir um intercâmbio entre escolas que, consoante as necessidades dos alunos, trocassem entre si os materiais disponíveis em vez de eles se encontrarem apenas disponmíveis nas metrópeles ou fechados em armários.

    Um bom exemplo disso, são os livros e os manuais em braille que ficaram encaixotados na minha escola quando terminei o ensino secundário.

    Sou a favor da ideia de doar ou emprestar material que não esteja a ser utilizado mas que terá uma grande utilidade para aqueles que não têm condições financeiras para adquirir tecnologias assistivas.

    Isso é o princípio da verdadeira solidariedade entre pessoas com deficiência.

    Sabe que para mim um surdocego é uma pessoa que não vê nem ouve em absoluto. As que ainda vêem ou ouvem o suficiente para serem autónomas são pessoas em vias de surdocegar. Sudocegar é uma palavra nova no meu vocabulário, embora há quem não concorde. Mas imagine uma pessoa ser surda total mas ter a visão estabilizada. Ela nunca surdocegará, a menos que o seu problema de visão seja degenerativo.Um dos princípios de todo o conhecimento humano é o questionamento das coisas. Longe de querer criar confusões, preocupa-me e muito a passavidade em que as sociedades vivem...

    Admiro-lhe a coragem e a forma crítica como desafia os que se julgam operários da inclusão, mas que acabam por se acomodar aos seus próprios preconceitos ou acham ser mais cómodo deixar tudo como está. É mais fácil manter as pessoas com deficiência na sua própria ignorância do que lutar ao seu lado pelos seus sonhos, sonhos de uma vida independente, de um emprego que a complete e faça sentir alguém útil e valorizada pelo seu potencial.

    Certas pessoas apregoam que somos alguma coisa graças a elas, mas a verdade é que somos nós os verdadeiros operários da nossa felicidade. Porque, ao sentirmo-nos acreditados, damos o nosso melhor e entregamo-nos de corpo e alma a qualquer oportunidade e tiramos o máximo proveito. Porque são raras as oportunidades e por isso muito preciosas.

    Queria frisar que sempre recusei ser institucionalizado e marginalizado do resto da sociedade. Frequentei escolas de ensino regular e estou orgulhoso de mim!

    Mas a minha inclusão não foi nada pacífica, porque muita gente queria institucionalizar-me e eu tive de lutar por mostrar que tinha capacidades e desejo de aprender. Apesar de ainda não ter 18 anos, já andavam a planear o meu futuro sem eu saber. Isso deixou-me furioso e exigi continuar na mesma escola, mesmo que isso significasse não ter condições nem apoios para fazer o 3º ciclo normalmente como os outros colegas...

    Foi apenas uma inclusão física, ou seja, eu estava integrado numa turma mas não tinha as mesmas condições que os meus colegas. Também tive uma certa culpa, porque não queria aprender Braille, nem exigia mais apoios.

    Foi muio difícil ingressar no secundário por falta de professor especializado e de apoios e estive quase para ficar em casa sem perspectivas de vida, porque era surdocego total (na altura ainda não ouvia com um implante coclear). Não havia um centro que me aceitasse para tirar uma formação profissional, porque só aceitavam pessoas cegas. E o único centro de surdocegos em Portugal não tinha a valência de cursos profissionais para adultos surdocegos.

    Mas parece que algumas pessoas se aperceberam do meu potencial e resolveram tentar. E não as desiludi. Claro que fui um sortudo, porque tinha uma professora de apoio só para mim, uma sala só para mim onde tinha aulas individuais, e um computador com um terminal e uma impressora Braille à minha disposição. Todas estas condições não existiram na minha escola, foi de forma gradual e lenta.

    Tenho consciência que na esmagadora maioria das escolas públicas estes apoios não existem, razão pelo qual muitos jovens surdocegos não têm a felicidade de estudar lado a lado com outros jovens sem deficiência...
    E muito menos agora que o Estado quer reduzir o número de professores e cortar nas ajudas técnicas tão indispensáveis aà formação integral das pessoas com surdocegueira ou outra...

    Sempre fui de opinião que todos temos capacidades muito diversificadas e que nem todas são aproveitadas. O que uma pessoa surdocega, por exemplo, é capaz de fazer? Se não estivermos atentos é o mesmo que estarmos cegos. Muito potencial existe mas parece dominar uma cultura que faz dos que são diferentes pessoas com menos capacidades que uma pessoa dita normal. Ideia mais estúpida, porque cada pessoa tem um potencial tão bom como o potencial de um docente, médico, mecânico, tc. Até as mais pequenas capacidades são úteis, tão úteis como ter um jardim bem cuidado, por exemplo.

    E seria muito mais vantajoso para a economia de um país empregar estas pessoas do que fazer delas dependentes do assistencialismo.

    Os meios de comunicação andam preocupados mais com as estrelas de futebol, dcom a cuscovilhice da vida dos famosos, com o poder dos bancos, com a publicidade ideológica, do que com os problemas sociais.

    Sou de opinião de que dispomos de uma ferramenta podeosíssima chamada Internet, onde através das redes sociais podemos conseguir o maior número de amigos para derrubar as barreiras, tanto arquitectónicas como atitudinais. Hoje em dia líderes políticos, religiosos e não só têm um Facebook. Até o próprio Lerparaver tem um!

    Portanto, não fiquemos à espera que os outros se mexam, mexamo-nos nós e o resto acaba por mexer-se!

    Abraço fraterno do seu amigo de luta e Verdade.

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