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Olá Filipe!
Que post interessante! Há coisa de um mês submeti aqui uma entrada sobre mitos e verdades sobre a deficiência, mas quase ninguém comentou, uma tristeza!
Então amigo, tantos tabus à volta de uma coisa normalíssima! O sexo faz parte da vida e é essencial à felicidade do ser humano, e não percebo sinceramente porquê as pessoas levantam obstáculos à sexualidade! Se não estão felizes com a sua sexualidade não têm nada que dier mal do sexo! Eu pessoalmente tenho uma vida sexual sem problemas, porque o principal é as pessoas gostarem umas das outras e o resto assim fica mais fácil. Eu e a Céu nunca tivémos problemas, pelo menos não temos preconceitos em relação ao amor.
Abraço
Olá Filipe!
Os exemplos de coragem e de alegria de viver são muito importantes para nós e para aqueles que cegaram recentemente ou que esbarram diariamente com barreiras de todos os tipos - arquitectónicas, atitudinais, pessoais, etc.
Escrever um livro sobre nós e as nossas dificuldades, mas também os nossos sonhos, é dar-nos a conhecer mais pelo que somos e pelo que damos de nós, porque assim muitas pessoas perceberão que a nossa vontade é maior do que as nossas limitações.
A Marta é uma pessoa que ias gostar de conhecer, muito inteligente e cheia de sonhos. Nunca me correspondi com ela por carta ou por outro meio, mas quando soube que estava a estudar em Santarém, tinha muitos amigos, ganhou um prémio num concurso de canto e estava prestes a editar um livro fiquei muito orgulhoso e feliz!
Já reparaste que uma pessoa que faz muito desporto tem mais resistência ao stress? Só lhe faz bem descarregar energias negativas! Eu, em Rio Maior, praticava natação, canoagem, escalada, atletismo, remo e muitas outras modalidades desportivas.
Tenho livros meus no word, embora também goste de os ter em braille para os ler e reler. Disseste uma coisa que fez-me pensar... As tecnologias, essa ferramenta que pode tanto servir para a integração das pessoas com deficiência como para a realização pessoal das mesmas. E, como gosto muito de escrever, podia fazer desse talento uma profissão ou uma ocupação. Enquanto não houver emprego possível, podia escrever, é uma boa maneira de as pessoas não acabarem deprimidas por estarem em casa.
Caramba, como simples palavras de um amigo como tu conseguem despertar sonhos adormecidos! Há anos que sonho editar livros mas falta-me persistência e garra, mas continuo com esperança, com vontade, e sobretudo com inspiração.
Um dia conseguirei, nem que tenha de ir até às últimas!
Abraço
Olá Filipe!
Sim, conheci a Marta quando ela andava a frequentar a escola primária de Alcobertas. Ela tinha uma professora de apoio que me pedia para imprimir em braille pequenas histórias para ela praticar o braille.
Quando a conheci, ela devia ter 7 anos e via alguma coisa, porque andava sozinha e desviava-se dos obstáculos. Era uma criança como todas as outras: alegre e gostava muito de brincar.
Nessa altura, a escola estava a tentar arranjar um computador adaptado para ela, mas não sei se o Ministério da Educação chegou a disponibilizar-lhe o equipamento que tanto jeito lhe fazia.
Depois que fui estudar para Lisboa não soube mais nada dela, apesar de lhe
ter pedido que me escrevesse se precisasse de alguma coisa. Soube por meio de outras pessoas que ela frequentava a Escolas das Marinhas de Rio Maior e que cantava muito bem. Nessa altura também tinha uma professora de apoio e era uma boa aluna. As pessoas ficavam encantadas com ela, que, como já disse, tinha um talento para cantar e era cheia de garra. Mas também os outros meninos eram cruéis com ela, o que a fazia sofrer.
Não sei porque foi estudar para Santarém, apenas pensei que tivesse mais apoios lá do que aqui. Mas se foi por não ter um professor de ensino especial, acho muito estranho porque a minha escola aprendeu comigo e estava preparada para receber alunos cegos. Mas vejo que a Marta está feliz com a sua nova escola, onde se sente completamente intregada.
Ó Filipe, a Marta ainda não editou o seu livro, mas está para breve. Em braille 450 páginas são o equivalente a 150 ou 200 páginas a tinta. Mas quando o editar, gostava muito de o ler!
Qualquer dia ponho a minha máquina braille no arranjo e começo a escrever como fazia antigamente. Gosto mais de sentir os pontinhos e de levar os textos que escrevi para os ler deitado na cama.
A Narta terá todo o meu apoio para realizar os seus sonhos. Nunca desistamos de sonhar porque é o sonho que nos faz viver e ir muito mais longe na vida.
Abraço
Olá!
Concordo plenamente com as palavras do papa Francisco, porque o que nos faz caminhar e nunca desistir é a fé.
Eu tenho fé apesar de vacilar no meu caminho, porque sou muitas vezes assaltado pela dúvida e pelo medo de não conseguir... No entanto, a vida é uma luta constante porque nada nos cai do céu.
Sempre acreditei que tínhamos uma luz espiritual que é o nosso ser. E o que mantém essa luz acesa é a fé que tenho, fé essa que não tem nada a ver com submissão a Deus, mas sim que creio em algo mais do que a luz física.
Hoje precisamos mais do que nunca de unir forças e vontades para derrubar o egoísmo e a discriminação. Ter a coragem de vencer e proporcionar o nosso crescimento e entendimento. Todos podemos com gestos tão simples estar a contribuir para uma sociedademais justa e ma qual todos os homens são peças fundamentais de um todo universal.
Deus está em cada um de nós e quando sonhamos é porque Ele quer que realizemos os nossos sonhos, porque é neles que está a Sua grandeza e vontade infinita. Todos somos chamados a testemunhar isso, não importando a deficiência, o estatuto social, o sexo, a etnia, etc. O que importa é que a fé é capaz de superar as nossas limitações.
Olá Marlin!
Cada um tem a sua opinião e respeito a sua, apesar de estar 100% de desacordo.
Primeiro, porque, para mim, a pior deficiência é a surdez, porque limita bastante a comunicação e a maioria das pessoas não sabe língua gestual. Também não ter mãos é muito pior do que ser cego!
Portanto, os surdos são altamente discriminados, enquanto que os cegos podem ouvir e comunicar com os outros sem quaisquer obstáculos.
Além disso, a pessoa surda quando fecha os olhos é como se estivesse no mundo dos surdocegos, enquanto que a pessoa cega pode continuar a entender a maior parte das coisas mesmo sem enxergar nada.
Entendo como os gémeos se terão sentido desesperados por estarem a perder a vista, pois eram surdos de nascença e o seu meio de comunicação e de percepção do mundo era a visão. Contudo, as pessoas que os rodeavam resignaram-se e não procuraram ajudá-los, deixando que eles, levados pelo desespero, pusessem termo às suas vidas.
Não existe no mundo pior coisa do que a resignação, porque a pessoa pensa que já não vale a pena e se conforma com as coisas em vez de procurar sentido para a sua existência.
De tudo o que tenho falado consigo, penso que o Marlin achou que realmente não ouvir e não ver era um inferno e que a eutanásia poria fim a tal sofrimento. Também percebi que para o Marlin a sociedade não tem culpa de ser desinformada, que foi destino os gémeos belgas morrerem sem que ninguém se preocupasse realmente com eles. Pois a sociedade é desculpável da sua profunda ignorância e apatia, cada um que se preocupe com o seu umbigo!
O Estado belga permitiu que dois jovens surdocegos dessem o exemplo ao mundo que só a morte poderia libertar o surdocego da sua prisão. E os outros países não estão longe de praticar ainda que de forma mascarada a eutanásia com os surdocegos.
Basta não lhes dar a atenção adequada, isolá-los da sociedade, deixá-los num estado vegetativo e primitivo, não lhes dar as mesmas oportunidades de serem pessoas independentes, para eles morrerem de solidão, de depressão, de loucura ou de morte aparentemente natural.
Mas para o Marlin, a sociedade não tem culpa de nada, a culpa é de se ter nascido ou ficado surdocego...
Se é que o Marlin aceita a sua cegueira, não diria que ao perder a vista a vida torna-se um inferno. Você está muito longe de compreender o inferno em que eu vivi.
A surdocegueira é bem mais pior do que a cegueira que, felizmente, hoje tem mais apoios e é possível de lhe dar resposta. Aliás, as pessoas vêem na rua pessoas cegas completamente autónomas, com emprego, família e uma vida social activa. Mas ser surdocego é ainda hoje uma incógnita, porque não se vêem nas ruas, e quando aparecem é como se viessem de outro planeta. O Estado pouco ou nada faz por eles, pois os surdocegos estão na lista dos "totalmente inúteis" e "totalmente dependentes de terceiros".
Quantos médicos sabem lidar com a surdocegueira? Nenhum, porque todos os médicos que eu tive não sabiam ou não queriam falar comigo como pessoa com sentimentos que sou.
E quantas pessoas que se cruzavam comigo me dirigiam a palavra? Nenhuma, porque nem sensibilidade e paciência tinham para os outros e muito menos para com os surdocegos... A falta de tempo não era desculpa, porquen podiam escrever-me na palma da mão nem que fossem duas ou quatro palavras!
Passei por experiências muito más, de discriminação e de manipulação. A superpritecção nunca foi solução, nem jamais mitigou os meus problemas, antes pelo contrário acumulou-os e fez de mim uma pessoa ansiosa e insegura.
Vivia num bairro sem amigos, aqueles que julgava serem meus amigos abandonaram-me na hora em que mais precisava deles...
Além disso, tenho uma deformidade física, uma grande cicatriz da operação que me fizeram aos intestinos devido ao acidente que quase me levou.
Tantas coisas dolorosas aconteceram na minha vida... muito mais dolorosas do que destes gémeos belgas... Se não acredita, dê uma olhadela no meu blog, na minha autobiografia.
Dou graças a Deus que aqui em Portugal a eutanásia esteja proibida, apesar de não ser contra ela no que se refere a pessoas em fase terminal que estejam a sofrer dores insuportáveis. Porque poderia cometer uma loucura e pedir a eutanásia e muitos outros surdocegos também, legalizando-se assim a eutanásia com deficientes múltiplos...
As dores da surdocegueira são psicológicas, mas é possível aliviá-las através de psicoterapias cognitivo-comportamentais e através da inter-ajuda. Eu só não morri por dentro porque encontrei noutros surdocegos exemplos de vida. A Helen Keller, o Carlos Santos, o José Pedro Amaral, o Almir Visconde, a Ana Rita Saraiva, o Alex Garcia, entre outros, foram para mim verdadeiros testemunhos de força de vontade. Se os gémeos belgas se tivessem agarrado a estes exemplos, tivessem entrado em contacto com outros surdocegos que venceram na vida e tivessem sido ajudados de forma adequada, compreenderiam que ainda era possível viver mesmo com a independência reduzida.
Repare amigo que ninguém é completamente independente, da mesma forma que ninguém é completamente livre. Isso são utopias, uma vez que o ser humano só é capaz de sobreviver em sociedade e que todos precisamos todos uns dos outros, às vezes de coisas tão simples mas importantíssimas, como uma palavra de alento, um carinho, um abraço ou um elogio.
Concordo com o Marlin que somos livres de escolher, que podemos recusar sermos ajudados e decidirmos pòr termo às nossas próprias vidas. Se foi vontade ou desespero de quem já não acredita na vida, foi decisão deles, embora pelo que li estavam claramente a precisar de apoio psicológico.
Essa aparente calma e felicidade para mim eram uma máscara que eles queriam exteriorizar ao mundo, escondendo os sentimentos mais angustiantes. A vida para eles acabara no momento em que sabiam jamais voltariam a ver, tudo parecu desmornonar-se aos seus pés, uma névoa espessa roubou-lhes o brilho dos olhos. Qualquer pessoa se sentiria diminuída e inferior, mas não ouvir e não ver era como deixar de perceber o mundo...
Claro que eu rejeitei aprender o Braille, vivi tempos sem ver uma luz ao fundo do túnel, passei por várias depressões, inclusive pensei em morrer, mas viver tornou-se-me uma obsessão, enquanto que para os gémeos morrer era uma obsessão.
Claro que ser surdocego é terrível, que sofri bastante quando perdia lentamente a vista e muitos dos meus sonhos não os poderei realizar por nesta sociedade individualista e desinformada não me proporcionarem as condições necessárias. Talvez foi mais culpa disso que os gémeos optaram pela eutanásia.
E a eutanásia é tentadora, não dói, é como ir dormir. Quem desesperado não lhe resiste?
Pergunto-me o que fez o Estado belga para ajudar estes jovens? Revelou-se ineficaz, impotente, ao ponto de os considerar um caso perdido só solucionável com a eutanásia. Uma coisa foi bem dita: a eutanásia não está acessível a surdocegos porque não são considerados doentes terminais nem num sofrimento insuportável. Isso foi a única coisa boa, o resto foi a sociedade que, leia a tradução, achou que era horrível ser surdocego, um inferno, ficar sem ver é impensável...
Agora o Marlin que explique porque afirma que a sociedade não tem culpa de ser desinformada e que não é possível dar o que não se tem, porque a sociedade não tem é bom senso nem se procura informar das coisas.
Ninguém consegue imaginar como é possível viver no mundo da surdocegueira, na ausência dos sentidos considerados essenciais para o Homem, embora existam exemplos incontestáveis de surdocegos que contra tudo e contra todos conseguiram ser alguém na vida.
Se a sociedade nos ajudasse mais em vez de ficar pelas considerações sentimentalistas e pela resignação, nós seríamos tão ou mais capazes do que muita gente dita normal. Surdocegos poetas, escultores, filósofos, escritores, educadores, psicólogos, têm surgido mesmo que a incredulidade e a ignorância da sociedade dita inclusiva sejam AS VERDADEIRAS BARRERAS ao seu desenvolvimento pleno e felicidade.
Cumprimentos
Eu gostaria de saber o que aconteceu realmente, porque eles eram surdocegos cono eu. Queria saber melhor sobre este caso, pois esta notícia chocou-me muito.
Marlin,
Eu respeito a liberdade de cada pessoa cuja vida a ela cabe decidir o seu destino.
Admito não conhecer a história dos gémeos em questão, qual o seu percurso de desenvolvimento e quais as circunstâncias em que viviam. Admito igualmente que nem todas as pessoas têm a mesma sorte que eu tenho e que não têm a mesma garra que eu tenho.
Depois de ler e reflectir nas suas palavras, vi que para si cada um faz o que quer da sua vida, até porque esta lhe pertence, e na ausência de estímulos positivos por parte do meio em que a pessoa vive ela tem ideias destrutivas.
Estudei Psicologia e sei do que estou a falar. A maioria das pessoas reage de forma depressiva à deficiência e fica num estado de grande vulnerabilidade psicológica. E basta ela ouvir expressões negativas como "é um infeliz" ou "não vai ser capaz" ou pior "não é normal" para ela pensar que é verdade, que a deficiência é horrível, que já nada faz sentido, para ter iedações suicidas.
Eu passei por experiências stressantes, mas a boa verdade é que deixava-me convencer por estas expressões destrutivas.
O amigo Marlin tem uma visão diferente da vida sobre o sentido da vida, mas as coisas só fazem sentido depois de passarmos pelos maus momentos. Felizmente você não é surdocego e pode ter uma ideia imprecisa ou distorcida sobre essa realidade. Há quem pinte a surdocegueira com cores pretas e se esqueça que é um ser humano como todos com os mesmos direitos e deveres.
Porém, a sociedade não pratica o que está na lei, só os privilegiados têm a sorte de desfrutar das melhores condições. Falo, pois, dos ricos ou dos que dominam a cultura de massas como os media, ou mídia, falando brasileiro.
A eutanásia não é mais do que um método de eliminação das pessoas com deficiência. No século passado, na Segunda Guerra Mundial, cientistas retratavam as pessoas deficientes como "fardos", "doentes irreversíveis", "debéis mentais" e "criaturas infelizes" que preferiam a morte a ter de sofrer. Tais ideias foram largamente difundidas e aeites pelas sociedades e pelos grupos políticos, perdurando ainda hoje no nosso inconsciente.
É a cultura destrutiva e desumanizada em que vivemos que faz da surdocegueira um fardo indesejável e é normal que o próprio surdocego sinta isso e sofra interiormente.
Mas a culpa não é da surdocegueira, mas sim dos preconceitos que se formam dela. São os preconceitos os potenciadores da discriminação e de perturbações do desenvolvimento.
A sociedade é a grande culpada ao facilitar o acesso à eutanásia, um método de eliminação mascarado para eliminar as pessoas com deficiência. Se a surdocegueira é um problema que a própria sociedade ignora ou faz dos surdocegos mais limitados do que são na realidade, eliminá-los é aceitável.
Pois se o Marlin afirma que eu sou dogmático, eu não o diria dea pessoa que não conheço. Se é mais fácil renunciar a lutar, se o Marlin pensa que a deficiência é uma fatalidade e a vida insuportável para quem vê na deficiência um ostáculo intransponível, respeito a sua teoria da liberdade individual.
Afirmo apenas que se eu estivesse com uma grave depressão estaria mais propenso a aceitar morrer, embora não fosse essa a minha real intenção. O amigo não sabe ao certo se os gémeos desejavam morrer. Podem ter sido influenciados pelos preconceitos ou só verem na visão o único meio de comunicação.
Estou triste porque nunca pensei que pessoas preferissem morrer a ficarem surdocegas. Isto só prova que a surdocegueira para a maioria das pessoas é tão terrível que mais valia não existirem surdocegos, mem todo o esforço que têm feito por uma vida digna e uma sociedade mais humana e justa.
Abraço.
Olá Céu!
Também eu não entendo, apesar de os próprios gémeos terem escolhido morrer....
Como já afirmei anteriormente, é mais fácil morrer do que viver. As pessoas são testadas a cada dia das suas vidas e há aquelas que não aceitam as suas limitações e que só olham para o lado negativo da vida.
A perda da visão e da audição não me impediram de pensar e de sentir, antes tornaram-me mais cobsciente do meu valor e do valor da vida. Valorizo as pequenas coisas da vida que antes eram para mim insignificantes, como o calor do Sol e as texturas dos objectos que me rodeiam.
Foi sem ver e sem ouvir que eu mostrei a mim mesmo ser mais capaz do que muita gente dita normal. Essas pessoas na ausência da visão procurariam a eutanásia como os gémeos.
Eu cheguei a pensar que era o único do mundo a sofrer, mas vi que há pessoas bem pior do que eu que são autênticos exemplos de vida.
Penso que os gémeos não suportavam a surdocegueira e que fugiram dela. E fugir dos problemas é a escolha mais infeliz, porque a pessoa jamais viverá em paz consigo mesma.
Nenhum ser humano deseja sinceramente morrer. Mas não entendo porque os gémeos não procuraram ajuda psicológica, porque deviam estar muito desnorteados e com sintomas depressivos.
Também não entendo a frieza dos médicos que aceitaram ajudá-los a morrer. O lema do médico é curar o doente, seja de males físicos ou de males de alma.
Costumo dizer que quando se fecha uma porta abre-se uma janela, mas estes gémeos estavam contaminados de ideias preconceituosas sobre a deficiência e deram razão de que eram vulneráveis e totalmente incapacitados...
É a educação errada que recebemos que nos leva a pensar que a perda da visão equivale ao fim do mundo.
Beijinhos
Olá Marlin,
Eu sou surdocego total, já estive acamado, tive uma pneumonia, e já passei por tantas coisas dolorosas que nem você imagina, mas mesmo assim não desisti de viver!
Tive razões mais do que suficientes para ter depressões profundas, mas não perdi a esperança e a coragem de ultrapassar as minhas limitações.
Além disso, a opção pela eutanásia nunca foi para mim uma saída nos anos em que eu perdia progressivamente a vista. Já era surdo e agora a cegueira tornava a minha vida mais difícil, mas eu não me escondi dos problemas, agarrei-me à vida, aprendi o que estava ao alcance das minhas mãos.
Como é que o Marlin pode achar digno de admiração o que os géneos fizeram? Acha que fizeram bem em procurar a morte como único recurso? Estamos no século XXI e as pessoas com deficiência têm uma melhor qualidade de vida, existem formas de comunicação alternativas e as pessoas já têm uma nentalidade mais aberta à diferença.
Mas como pode o amigo afirnar que foi digno de admiração o que eles fizeram? Se isto se tivesse passado no século XV, por exemplo, onde não existia nada para as pessoas com deficiência, sim seria digno de admiração escolher morrer.
Há pessoas que lidam mal com a sua deficiência e que procuram medidas tão radicais e deploráveis como a eutanásia para porem termo ao seu sofrimento.
Ser cego ou surdocego não é tão grave como ser doente terminal ou tetraplégico.
Se você é um defensor da vida, porquê estes dois indivíduos que não tinham nada de grave e que podiam continuar as suas vidas fugiram da vida? Se podiam andar, falar, sentir, pensar e lutar pela vida...
O que é que você faria se ficasse surdocego? Quereria morrer como os gémeos ou lutaria ?
Se você lutasse, isso seria digno de admiração, porque estaria a cumprir a sua missão.
Ou a Bélgica é um país com demasiada liberdade, ou porque é mais fácil morrer do que viver?
As limitações não impedem as mentes esclarecidas
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