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Comentários efectuados por Marco Poeta

  • Marco Poeta comentou a entrada "Ser ou nao ser" à 14 anos 2 meses atrás

    Olá Shirley!

    Gostei do teu desabafo e da coragem que tiveste para o partilhar aqui connosco. Muitos de nós, cegos tardios, compreendemos o que sentes e já sentimos o mesmo muitas vezes, principalmente nos momentos mais difíceis da nossa vida, no qual pensamos que se enxergássemos resolveríamos os problemas.

    É normal olharmos para trás, lembrando e relembrando vezes sem conta as coisas boas que vivemos quando víamos. É bom que não as esqueçamos jamais, pois nunca nos será tirado.

    Mas olha que o teres ficado só cega não foi o pior. Eu sou surdocego literalmente, ou seja, não vejo nem ouço nada. Até aos 9 anos era uma criança "normal", mas com as complicações de saúde fiquei surdocego aos 16 anos. Fiquei muitos anos mergulhado no silêncio e na noite, sem poder ouvir música, saber o que os outros falam, se riem ou se zangam, nem podia andar na rua de bengala, nem ter um sintetizador de voz e um telemóvel para falar com os amigos mais distantes. A lista é muito extensa, mas quero que compreendas que, apesar de surdo e cego, foi a muito custo que me aceitei sem ficar dependente de antidepressivos e do meu passado que eu sabia não voltaria mais.

    Fiz um curso superior que mesmo não conseguindo emprego, não deixou de ser mais uma vitória na minha vida. Agradeci a Deus pelos outros sentidos e pelo que tinha, deleitando-me com a frescura do amanhecer, o perfume da maresia e o vaivém das ondas do mar, o toque suave das minhas mãos sobre o meu rosto para saber como era bonito ou os rostos dos meus sobrinhos lindos. Podia não ver televisão, mas lia muito em Braille, sentindo todas as emoções possíveis no meu coração. Dizia na brincadeira que os livros em Braille eram o meu cinema, e a verdade é que sentia o meu espírito livre, superando a surdocegueira.

    Em 2005, quando recomecei a ouvir com o auxílio de um implante coclear, tinham-se passado 15 anos que não ouvia os sons, que assim que escutei o chilrear dos pássaros fiquei muito emocionado. Mesmo que não ouça cem por cento como tu e o Filipe, o que ouço já é muito bom para ti e é a prova em que ser surdocego é mais terrível do que ser apenas cego, e que, portanto, não é motivo para maior infelicidade.

    Não posso andar sozinho na rua como quiser, porque não é porque sou cego e ouço mal, mas sim porque não há o mínimo de segurança nas cidades para pessoas com necessidades específicas. Não é a nossa deficiência que nos impede de fazer o que gostamos, mas a falta de condições.

    A visão não é a mais importante, mas sim todos os sentidos em conjunto! Estou farto de pensar que a nossa vida acaba quando perdemos a visão e que sem ela não podemos ser mais felizes. Isso é porque nós nos agarramos ao passado e não vivemos o presente. Para mim, o passado não é mais do que a continuidade do presente e daquilo que somos. É o presente que podemos transformar a nossa vida se assim o desejarmos.

    Tive várias depressões e atribui toda a culpa dos meus insucessos à minha surdocegueira, mas hoje entendo que estava numa fase de superação dos meus próprios preconceitos.

    Não nego que já pensei que o remédio para a minha saudade era voltar a ver, e quantas vezes o pensava! Mas fui-me apercebendo que tinha outras capacidades que não faziam de mim menos diferente ou incapaz que os outros. Deixei de fazer algumas coisas de que gostava, mas encontrei outras tão boas como as anteriores.

    Olha Shirley, o Filipe tem toda a razão quando disse para não pensarmos no que podemos gozar de maravilhoso na vida com os outros sentidos. Podemos ser muito mais felizes se mantivermos o nosso sorriso espontâneo e nunca nos deixarmos derrotar pela tristeza.

    Sê feliz!

  • Marco Poeta comentou a entrada "ACAPO quer uma verdadeira democratização do livro" à 14 anos 2 meses atrás

    Olá!

    Acho muito importante sensibilizarmos as editoras para que estas disponibilizem não só livros a tinta, mas também livros acessíveis para pessoas cegas, amblíopes, surdocegas e idosas.

    É preciso abrirmos os olhos e encararmos a realidade: a discriminação e as barreiras são fruto do preconceito, o qual deturpa a verdade. Se olharmos à nossa volta, damo-nos conta da diversidade e de que todos temos as nossas limitações e necessidades. Se a nossa sociedade se move apenas em torno da visão, não haverá nada para os outros, excluindo-os em consequência disso da sua participação e do seu desenvolvimento plenos.

    Eu costumo pensar que as crianças de hoje lêem cada vez menos, enquanto que as crianças cegas e surdocegas têm de se contentar com os poucos livros disponíveis em Braille... Por exemplo, não existe editado em Braille nenhum Dicionário de Língua Portuguesa actualizado, nem enciclopédias, nem materiais de estudo...

    Não pensem que só me refiro às crianças, mas também aos jovens e aos adultos. A maioria dos deficientes são unânimes no que diz respeito à importância vital da leitura, e muitos, como eu, vêem a leitura em Braille como meio alternativo de obtenção de conhecimento, qualificação pessoal e profissional e como forma de lazer.

    Louis Braille afirmou uma vez que os cegos poderiam libertar-se da ignorância em que eram mantidos através da leitura. Qual o cego que não estaria de acordo com ele? Pois foi graças ao Braille que conseguimos integrar-nos na sociedade com a nossa "nova visão", que nos faz enxergar muito mais longe do que a retina do olho.

    Ah! Esqueci-me de vos dizer que sou surdocego adquirido e que foi em grande parte graças à leitura que superei a depressão. Pois conhecia e contactava com o mundo através das pontas dos dedos, divertindo-me e deleitando-me com os livros, que foram na altura os meus melhores amigos.

    Até que enfim que temos iniciativas como estas, porque atrevo-me a afirmar que o cego lê mais do que o normovisual, que tem tudo mas não sabe dar valor ao que tem. E também me atrevo a afirmar que as editoras e os deficientes visuais ficarão a ganhar, pois terão um mais vasto público ledor muito interessado.

    No entanto, entristece-me que até os cegos de hoje leiam cada vez menos, escravizados pelas tecnologias como os telemóveis e a Internet...

  • Marco Poeta comentou a entrada ""Aventura para todos" - o encontro do ano! inscreve-te já!" à 14 anos 2 meses atrás

    Olá Tixa!

    Eu e a Céu estamos bem e muito felizes!

    Esperamos que esteja tudo bem contigo e que os teus estudos estejam a correr pela positiva.

    Olha, estamos muito interessados em ir e já pensei em regularizar as minhas quotas. No entanto, estou com uma dúvida... Eu e a Céu recebemos em casa uma circular em Braille da Direcção Nacional da ACAPO e ficámos a saber que este evento se destinava a jovens até aos 30 anos... É verdade?

    Agradecemos-te desde já a resposta.

    Fica bem!!!

  • Marco Poeta comentou a entrada "PME´s excluem cegos e ciganos e dificultam liderança às mulheres " à 14 anos 4 meses atrás

    Olá Norberto!

    Discriminar as pessoas porque têm uma limitação é uma estupidez, porque cada pessoa tem o seu potencial, mas é triste que só vejam o superficial... Se é que as empresas não empregam cegos ou surdos, então pior é para os surdocegos, cujas chances de emprego são muito remotas...

    E depois aquela tanga dos homens terem mais sorte que as mulheres... As mulheres trabalham as mesmas horas que os homens e ganham menos... É absurdo, e parece que ainda persiste a cultura ancestral de que o homem é superior à mulher...

    Ah, pois... somos um país que se diz democrático, mas que na hora da verdade se revela racista e xenófobo... Tamanha hipocrisia!

    Raça só existe uma que é a raça humana! Depois dela são as etnias que não é sinónimo de raças, mas sim de características de um povo que dão origem à diversidade humana.

    Cumprimentos

  • Marco Poeta comentou a entrada "Amblíope e escritor" à 14 anos 4 meses atrás

    os meus parabéns e desejo de muito êxito com a publicação do seu segundo livro.

    Fico muito feliz por ter realizado o seu sonho de escritor e dele nunca ter desistido!

    Eu também escrevo poemas e contos, alguns estão publicados no lerparaver, e outros em livros que gostaria de ver publicados um dia destes.

    Continue, força!

  • Marco Poeta comentou a entrada "A amizade é uma aprendizagem constante" à 14 anos 5 meses atrás

    Olá Filipe!!!

    Como estás???

    Desculpa só agora te dar notícias minhas, mas mais vale tarde que nunca!

    Olha, eu já tinha lido o teu post, na terça, mas não comentei apesar de muito o querer fazer... Porque nesse dia estive cheio de dores num dedo da mão devido e uma infecção chata. E como não melhorava e o dedo estava muito inchado e doía-me, ontem tive de ir ao médico de urgência...

    Agora estou um pouco melhor, o dedo continua inchado mas não me dói. Fui às urgências com a Céu e a Jessica, e a médica que me atendeu foi muito simpática connosco. Ficou estarrecida por uma moça amblíope, um rapaz cego e uma criança andarem sozinhos na rua ou viverem os três na mesma casa. Fui o primeiro utente surdocego que lhe passou pelas mãos, e gostei, pois ela não era como aqueles médicos demasiado sérios e de pouco diálogo.

    Eu queria-te escrever, mas o dedo infeccionado é da mão direita, por isso é que não comentei o teu post mais cedo...

    Fiquei contente por teres dado a conhecer a forma de comunicação alternativa que te ensinei no nosso encontro no Porto. Gostava muito de te rever, pois estamos sempre a aprender com os nossos amigos. Não há um dia que passe que eu não tenha aprendido algo com os outros!

    É verdade que não conhecemos a 100% os nossos amigos, da mesma feita que não nos conhecemos a nós mesmos a 100%! Se não fosse assim, seríamos todos iguais e nada havia para aprendermos.

    Sabes, Filipe, na cidade onde moro não tenho amigos... porque todos eles moram longe... mas felizmente podemos estar em contacto através do lerparaver ou de outros meios de comunicação.

    Engraçado, porque quando te oiço ao telemóvel sei que és tu, pois com tempo consigo reter os diferentes timbres dos meus amigos. É normal que da primeira vez que nos falámos, eu tivesse alguma dificuldade em te perceber. O mesmo aconteceu da primeira vez que liguei à Céu! Aos poucos e poucos fui ouvindo melhor, e agora às vezes esquecem-se que sou surdo e tenho de lhes pedir que falem mais devagar.

    Tenho mais dificuldade em distinguir os sons agudos que os graves, por isso é que vivo confundindo as vozes das mulheres, eheheheheheheheh!!!

    Tens razão! A amizade cultiva-se e se não cuidarmos dela, ela morre.

    E eu sinceramente não quero que uma anizade como a nossa morra! Nos próximos encontros, aprenderás muito mais, pois no primeiro encontro não tivémos muito tempo... E contigo também eu aprendo a derrubar barreiras no meu caminho, e sobretudo ter alguém que me apoie nas horas mais difíceis, seja pessoalmente, seja pelo telemóvel ou messenger.

    Hoje em dia é raro encontrarmos um amigo sempre disponível como tu... E sabes que foste o primeiro que me deu conversa no lerparaver? E que foste o neu primeiro amigo?

    És um dos poucos do lerparaver que participa regularmente, dando ideias, dicas, pesquisando sites acessíveis, fazendo novos amigos e preservando as velhas amizades.

    Um grande abraço pró mano!

  • Marco Poeta comentou a entrada "Apresentação" à 14 anos 5 meses atrás

    Olá Jessica!!!

    Sê bem-vinda ao lerparaver!

    Que eu saiba, és a menina mais nova que até agora participou no lerparaver. Acho que as outras crianças deviam fazer o mesmo! Sabes! Este portal não foi criado só para as pessoas cegas ou com baixa-visão, e pessoas como tu também podem participar. Por exemplo, podias falar dos cães-guia, porque vejo que gostas muito deles. Ou podes falar dos passeios que vais fazendo com o pessoal da ACAPO.

    Ah! E fico feliz por teres falado de mim! Há crianças que têm medo ou vergonha de conhecer pessoas cegas, o que é normal. Mas muitas não se relacionam, mas tu aceitas-me bem e em tão pouco tempo aprendeste comigo. POr exemplo, já aprendeste algumas letrinhas do alfabeto Braille e a escrever numa régua. Isso não é fácil, porque temos de escrever da direita para a esquerda e não da esquerda para a direita. E também aprendeste a escrever-me na palma da mão quando eu tiro os aparelhos e não oiço nada.

    Muitos beijinhos e fica bem!!!

  • Marco Poeta comentou a entrada "Ficou cego e quer ser guia turístico no castelo de Bragança " à 14 anos 5 meses atrás

    Olá!

    Tal como disse anteriormente a minha namorada, acho muito bem que o Norberto tome a avante com a sua iniciativa, visto que mais ninguém a quer tomar.

    Não vejo problema em o Norberto ser guia turístico, porque conhece a sua terra e o seu castelo. Não é o ser cego que o vai impedir, mas sim a ignorância e o preconceito dos outros.

    Um cego a guiar um normovisual não é nada estranho. O cego tem uma visão mental que é muitas vezes ignorada, e este é um desafio para lhes mostrar que o sentido da visão não é exclusivo!

    E o Norberto foi corajoso, porque ao revés de ficar em casa a lamentar a sua cegueira, viu que ainda valia muito nos seus conhecimentos da cidade e em especial do castelo e da sua história riquíssima.

    Força, Norberto! Conte comigo e com a Céu!

  • Marco Poeta comentou a entrada "Breve apresentação" à 14 anos 5 meses atrás

    Olá, Tiago!

    Que bom que tenhas voltado! Tens de participar mais vezes no lerparaver, porque faz um tempo que não tens passado por aqui...

    Gostei da tua apresentação, especialmente ao saber que a deficiência não é sinónimo de estar parado no tempo! Também sou um pessoa muito activa, e, tal como tu, vejo as tecnologias como uma janela para o mundo!

    Espero ver-te mais vezes!

    Abraço

  • Marco Poeta comentou a entrada "Curso de esgrima para cegos" à 14 anos 5 meses atrás

    Olá!

    Fiquei boquiaberto com esta notícia e achei fantástico poder praticar uma modalidade que acham impraticável por uma pessoa cega só por ela não ver.

    Adorei este desafio ao preconceito!

    Cumprimentos

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