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Olá a todos!
Sou portador de surdocegueira e encontro-me a frequentar o último ano do mestrado em Psicologia da Educação na Universidade Lusófona de Lisboa. Estou a estagiar na minha ex-escola da minha área de residência, e sinto-me muito preocupado com o meu acesso ao mercado de trabalho por ter duas limitações sensoriais... No entanto, através do auxílio de um implante coclear (IC) recuperei 70% da audição, o que foi, indubitavelmente, um grande salto na minha independência e me abriu muitas portas que antes me estavam totalmente vedadas, como foi o caso do acesso ao ensino superior.
Nunca frequentei escolas de referência para alunos com deficiência visual. Primeiro, porque era surdocego e não existia em Portugal escolas preparadas para alunos como eu que pudessem ter acesso ao ensino. Segundo, porque davam mais importância às minhas limitações do que às minhas capacidades, que foi preciso que eu mostrasse muita força de vontade e desejo de aprender Braille e técnicas de Orientação e Mobilidade. Aprendi Braille e a andar de bengala (em sítios fechados) para poder continuar na escola da minha cidade. Reconheço que nenhuma das escolas por que passei tinha professores especializados na deficiência visual e muito menos na surdocegueira. Foram professores que, mesmo sem grande formação de Braille, me ensinaram esse sistema táctil de leitura-escrita e trabalharam comigo o desenvolvimento do tacto, bem como transcreviam o Braille para tinta para que os meus professores poderem corrigir os meus testes. Isto porque a única ajuda técnica existente na escola era a máquina Braille... Tinha sido feito o pedido ao Ministério da Educação de equipamento Braille para mim que nunca chegou... Foi a Fundação Calouste Gulbenkian que doou um terminal Braille e uma Everest Braille que ficaram para mim e que se não fossem eles não teria realizado os meus estudos com êxito.
As barreiras que eu tive que superar para ingressar no ensino superior não foi pacífico, porque fui pressionado de tal forma a não tirar um curso superior como Psicologia, o qual se dizia não ser o mais adequado para mim tendo eu as limitações que tenho e por hoje em dia o mercado de trabalho estar muito saturado e não estar facilitado para as pessoas com deficiência no geral.
Certo que a Universidade Lusófona me aceitou, mas mais certo foi que ela não estava minimamente apetrechada para eu poder ter o mesmo acesso à informação que os meus colegas normovisuais. Também eu era o primeiro deficiente visual a ser integrado, cuja integração física foi mais fácil do que a verdadeira e tão falada integração plena...
Se não fossem os apios humanos e técnicos da única instituição de surdocegos ainda estaria a desesperar para terminar a minha licenciatura ou teria desistido como fiz com a Faculdade de Coimbra.
Sempre entendi que temos de ser nós mesmos a lutar pelos nossos objectivos, por mais árduos que sejam os caminhos que temos de trilhar sozinhos. O curso de Psicologia foi muito stressante para mim, porque não tinham nada alternativo para os deficientes visuais, como se passou nas aulas práticas em que tínhamos de ver filmes, imagens, trabalhar com provas de avaliação psicológica e com o inacessível SPSS (este último foi uma grande dor de cabeça).
Apesar de eu nas aulas teóricas ser um dos melhores, aplicar provas era muito frustrante e pensava muitas vezes que assim estaria muito limitado e que não ia conseguir...
Interesso-me muito pela educação e entusiasmei-me muito pela Psicologia da Educação, pela cadeira de Necessidades Educativas Especiais, até porque um dos meus sonhos era ser caso não pudesse exercer a profissão de psicólogo, pelo menos professor de Braille. Porque o Braille é a minha ferramenta principal, com ele foi possível chegar onde cheguei!
Terminei a minha licenciatura o ano passado, com média final de 15 valores. Também terminei o primeiro ano do mestrado com sucesso, embora com muita angústia..,. Porque trabalhámos muito a avaliação psicológica e eu sentia-me muito limitado por nenhuma prova se encontrar acessível para os psicólogos cegos, quer em Braille, quer em suporte digital acessível. No fundo, eu não me queria sentir muito limitado e dependente dos outros, queria ser útil e sobretudo a intervir no terreno.
Insisti em conseguir que a minha ex-escola me aceitasse como estagiário, mesmo estando consciente que as problemáticas dos alunos não tinham nada a ver com a deficiência visual. Mas sempre me disseram que eu não ia lidar exclusivamente com alunos cegos. O director e a psicóloga da escola não me mostraram tão entusiasmados por eu querer estagiar na escola onde me desloco bem sozinho. O director mostrou-se reticente e hesitante, e não parou de apontar problemas e de lembrar que a escola não tinha nada para eu estagiar com condições. A psicóloga, por sua vez, não podia andar comigo de um lado para o outro, uma vez que fazia parte de um agrupamento de escolas de Rio Maior, e que, portanto, não estava numa só escola. Eu estava dependente da disponibilidade dos outros, e tanto o director como a psicóloga deram-me a subentender que eu não iria ter como estagiar ali, salvo numa instituição mais pequena. A psicóloga ainda teve a lata de dizer-me que hoje os jovens estavam cada vez mais cruéis e que as pessoas da escola podiam não ser muito receptivas comigo por eu ser deficiente.
Contudo, fui aceite e comecei a estagiar às quartas e às quintas-feiras de manhã. Assistia às reuniões de professores, encarregados de educação e aprendia na teoria como era o trabalho da psicóloga. Mas esperava algo mais prático para além de ouvir em silêncio... Q verdade é que estava na fase de adaptação que começa sempre por observar o que os outros fazem.
Houve um dia em que, em conversa com a psicóloga, ela contou-me que se eu visse estaria a cotar e a analisar as provas que ela aplica aos alunos quando faz orientação vocacional... Não sei o que vou fazer com ela de prático, e da última vez que estive com ela e fomos a empresas que aceitassem alunos com NEE, eu disse-lhe entusiasmado que os empregadores se eles gostassem do bom trabalho dos alunos ainda lhes davam trabalho remunerado! Ela virou-se para mim e respondeu-me que os alunos com NEE não podiam empatar
Eu conheci a Jessica com as minhas mãos, que é uma criança linda, inteligente e doce como a Céu. Os cabelos sãos os mesmos, encaracolados e macios, o rosto de linhas suaves e simétricas, também macio e expressivo. Sai à mãe! eheheheheh
Para a Céu e para a Jessica não existe tabu nenhum em um cego lhes passar suavemente a mão pelo rosto. Quem pensa que tocar o exterior de alguém é um tabu deve ter uma mente fechada e achar uma coisa tão normal vergonhosa. A Jessica, que tem 7 anos, sabe que sou cego e aceita o facto muito bem, até brincámos, jogámos xadrez táctil, ela achou-me engraçado e não lhe fez confusão que eu lhe tocasse no rosto de menina laroca. É uma criança encantadora! Quando não sabia dela ela punha-me a mão sobre a sua cabeça ou tocava-me para que eu soubesse que estava ali.
Tenho certeza que a Jessica gostou de mim! O meu coração ela já conquistou naturalmente! Adoro crianças porque são das mais raras e belas alegrias da vida. O seu sorriso e coração puros dão cor e música à paisagem monótona do nosso viver.
A Jessica é uma criança alegre, adora os animais e a escola, é amiga de todos; é educada, dedicada e ajuda muito a Céu. Também é uma mulherzinha desenrascada e preocupa-se muito com a mãe, querendo sempre ajudá-la e até demais! eheheheheheh
A mim também me sabe ajudar, sobretudo em sítios que eu não conheço. E também se preocupa comigo, porque quando brincamos às cavalitas ela tem muito cuidado com o implante coclear que tenho na cabeça e orienta-me verbalmente.
As crianças são muito sensíveis e apercebem-se facilmente das diferenças, mas não são preconceituosas e cruéis como os adultos. É claro que também têm de ser educadas para encararem a diferença como fazendo parte da vida de todos nós. Mas para isso temos de sair do nosso egocentrismo e compreender o outro, tão igual e tão diferente de nós.
Não é tabu pedir educamente aos outros para lhes tocarmos, mas não me imagino a pedir a toda a gente permmissão para tal. Isto porque sou tímido e só toco poucas pessoas que me são mais chegadas, como a minha namorada Céu, a Jessica, o meu sobrinho André e a minha irmã mais nova Cátia. No entanto, quando quero mesmo muito tocar uma pessoa de quem sinto muita amizade e à-vontade, eu toco-lhe mesmo, nem que seja ao de leve. Eles não se importam, até levam isso com naturalidade.
Viva o tacto! Glória à Criação que tão generosamente nos doto Glória aos nossos antepassados que lutaram arduamente para que a humanidade pudesse evoluir! E glória ao Amor que faz da Sabedoria verdadeira e só inteligível pelo coração dos simples.u!
Olá amor e restantes!
Sem sombra de dúvida que o nosso tacto é tão precioso como todos os outros sentidos, mas nem sempre lhe é dado o devido valor e importância que tem na nossa concretização pessoal! Porque há quem atribua ao tacto um papel muito redutor, porque não é apenas o simples acto de tocar os objectos para os conhecer ou manusear! Não! Aliás, podemos beneficiar dele ao máximo no nosso dia-a-dia; mais do ler Braille, identificar objectos, orientar-nos em espaços fechados... podemos fazer uma imensidade de coisas inimagináveis.
Não o digo teoricamente, que isso é muito filosófico e esquece a técnica. É o conhecimento empírico que sustenta o meu discurso!
Algumas pessoas do lerparaver sabem que sou surdocego e que as minhas mãos são tão preciosas mas o mais precioso é saber usá-las proveitosamente. Teria muito para enumerar das vantagens do tacto, mas não é necessário, basta que reflictam na utilização que fazem dele diariamente e o que poderiam fazer ainda mais e melhor para o desenvolverem.
Beijos & abraços
Olá Filipe!
Tenho vindo pouco aqui mas olha que não me tenho esquecido de ti e dos restantes amigos do LERPARAVER!
Hoje, por exemplo, tive a manhã e a tarde a organizar com a psicóloga da escola o meu estágio, que começou mesmo hoje e que vai continuar amanhã. Até agora estou a gostar muito e é mesmo um desafio para mim estagiar numa escola de ensino regular e onde não existe nenhum aluno com deficiência visual. É claro que vou trabalhar sempre em parceria com a psicóloga e com os professores, assistindo a reuniões, entrevistas, acções de informação e de formação, acompanhando turmas, e quem sabe ajudar alunos com problemas emocionais e de integração social. A parte da avaliação psicológia em que para além da entrevista se tem de aplicar uma bateria de provas psicológicas está fora de questão, uma vez que as mesmas não estão acessíveis aos psicólogos cegos e que apelam muito à visão... Enfim, eu posso participar em programas de prevenção e de desenvolvimento de competências sociais os problemas hoje nas escolas são tantos que é de deixar um psicólogo doido! eheheheheh
Então amigo? Por que te desvalorizas por fora? Costumo afirmar que se é bonito quando se tem uma boa auto-estima. Qquando eu falei que a aparência física também é importante, eu estava a pensar sobretudo na nossa capacidade de gostar de nós mesmos e como tal gostarmos de nós como somos! Eu acho giro não porque os outros o dizem, mas porque eu me toco com as mãos e gosto de mim. A Céu também gosta de me tocar a face mas isso não é porque me acha apenas bonito por fora mas que por dentro bate um grande coração que a ama sem reservas. O amor faz as pessoas mais alegres e bonitas, né?
Tens razão ao disseres que cuidar da nossa imagem é importante, mas tu disseste algo mais profundo e nobre. Falaste não de uma imagem meramente corporal mas deste mais valor ao nosso bem-estar interior, aos sentimentos, à atenção que damos ao nosso corpo que tal como tudo precisa de amor e de cuidados. Não é só o exterior que nos diz o que a pessoa é mas o que ela nos revela do seu tesouro interior. E tu, amigo, revelas sempre a pessoa frontal e forte que és!
Um abraço
Bom dia Filipe!
Amo muito a Céu e estou disposto a lutar por ela! Pois sou o seu Marco Guerreiro, o seu homem verdadeiro, o seu Mar que brilha com a sua luz celeste, pura e linda! Tenho tantas saudades da minha Céu... a distância física deixa de existir com o nosso amor infinito que se quer eterno. Cada dia mais amo a minha Céu, amo o seu lindo nome, a sua voz doce e cristalina, o seu rosto lindo que eu amei tanto...
Podem dizer que as aparências iludem, e é verdade mas não me engano no meu amor que o seu interior verdadeiro e suave torna o seu exterior mais belo! Dou valor à aparência que diz muito do que a pessoa é por dentro. E se não cuidarmos da nossa aparência como queremos sentir-nos bem connosco mesmo e com a pessoa que mais amamos?
Eu e a Céu nos amamos de corpo e alma, aceitamos as nossas diferenças não por dever mas por puro amor! Antes eu era desleixado comigo mesmo ignorando que era muito bonito e hoje gosto muito de mim como sou e só preciso que o meu amor goste de mim! E ele gosta mesmo muito de mim, mesmo com a grande cicatriz que tenho na barriga do acidente e pelas minhas duas deficiências. O amor está sempre acima de todas as coisas, e o amor que eu e a Céu sentimos um pelo outro é completo na sua entrega!
Quem ama de verdade aceita o outro incondicionalmente, não por obrigação mas por amor.
Abraço
Bom dia Filipe!
Como tás?
Gostei do estágio que fiz no CNO quando estava no 3º ano da licenciatura. Foi muito interessante, mas não foi um estágio de psicólogo, foi antes para ganhar experiências e competências no mundo real onde existem os problemas reais. Quanto mais experiência se tiver mais somos conscientes e aprendemos a aplicar os nossos conhecimentos na hora certa.
Estou no último ano do mestrado de Psicologia da Educação e o meu estágio como psicólogo vai ser na escola secundária de Rio Maior, onde os jovens são ditos "normais". Eu mesmo é que insisti para estagiar lá e consegui que fosse aceite mesmo contra vontade dos outros. Vai ser para mim um grande desafio mas eu adoro desafios e estou sempre a meter-me em cada uma! eheheheheh
Abraço
Olá amiga Virginia!
Adorei o seu último post que me deixou muito interessado! loool
Agora entendo melhor o seu projecto... Afinal sempre foi a sua experiência de vida que lhe ensinou a dar valor aos outros, partilhando com eles as nossas vitórias e sabedoria, para já não esquecer a nossa amizade e solidariedade!
Sempre com os outros aprendemos qualquer coisa! eheheheheh!
Admiro-a pela sua experiência de quando lia e reflectia em grupo. Isto sim, as tertúlias, e também eu gostava de fazer o mesmo!!! Mas é bom ter um grupo de mente aberta e com uma aprendizagem de vida rica! lol
Amo o Braille mas também amo a minha Céu!!! Conjugando os dois a minha felicidade não tem limites! O amor incondicional que temos um pelo outro, a sinceridade e respeito que nos une, a alegria das pequenas coisas que partilhamos cada dia que são tesouros valiosíssimos, o sermos confidentes um do outro, o apoio que vem sempre prontamente... Somos muito felizes e por isso mesmo nos amamos cada dia mais, certos que fomos feitos um para o outro.
A Céu até se interessa bastante pelo meu mundo como surdocego, querendo aprender tudo comigo, como língua gestual, a escrita na palma da mão e como as minhas mãos são preciosas para sentir as emoções do seu rosto. Pois eu toco no rostinho lindo do meu sobrinho de 3 anos e sei quando ele chora, ri, fica zangado... eheheheheh!
Sabe que para além de admirar Louis Braille admiro a Helen Keller? "Agora graças a Helen Keller e a Anne Sullivan sabemos ocupar-nos melhor das crianças surdocegas. Elas já não estão mais sós, na noite no silêncio."
Fazem quase 5 anos que deixei o mundo do silêncio graças ao Implante Coclear! A minha felicidade de voltar a ouvir, ainda que não seja a 100%, não teve limites! loool Mas quando tiro o aparelho auditivo volto ao mundo do silêncio que não me assusta, porque sei que pelo tacto consigo preencher a falta da vista e da audição, embora jamais o consiga totalmente... Porque a vista e a audição são insubstituíveis, evidentemente...
Mas agora que ouço derreto-me de alegria com os sons à minha volta e com as vozes queridas das pessoas que amo! E quando ouço, extasiado, a voz doce e transparente da Céu, ai! ai! Todo o meu sorriso se ilumina, todo o universo diz o seu nome: Céu!
Desejo-lhe tudo de bom e pode considerar-me seu amigo leal e para todas as horas! loool
Beijinhos
Marco Branco
Olá Virginia!
Acho que é nova no LERPARAVER e dou-lhe as boas-vindas a esta grande "família" que me tem ajudado imenso!!! Pode acreditar que também eu desconhecia até hoje muitas coisas vitais, incluindo o que significava chamar a alguém de de "invisual". A Verdade liberta-nos dos estigmas sociais que até nós próprios partilhamos na nossa educação e de forma inconsciente os mesmos preconceitos da sociedade capitalista.
Em relação ao termo "deficiente visual", há que aceitar a disfuncionalidade ou dificuldade do olho... É verdade que também não me sentia contente com a palavra "deficiente", mas se os meus olhos deixaram de enxergar a luz física, em compensação a luz interior tornou-se mais luminosa na minha vida! Ignoro os adjectivos negativos que a mente estúpida criou em torno da deficiência; nós se quisermos ser felizes não devemos dar ouvidos às mentalidades fechadas e cobardes. Fazem das nossas limitações um problema e tentam desiludir-nos os sonhos que ousamos desafiar a escuridão... Louis Braille ousou desafiar a escuridão e acabar de vez com o modo como os deficientes visuais eram tratados como ignorantes e debéis mentais. Ele, na minha opinião, trouxe a visão a milhões de deficientes visuais de todo o mundo. obrigado louis!
Sou cego total e surdo profundo bilateral, digamos assim, sou surdocego desde tenra idade devido a um atropelamento e a uma infecção hospitalar que me tirou a visão do olho direito com descolamento de retina e operações inglórias... O meu olho esquerdo já era cego em consequência do acidente, aos 8 anos de idade. Hoje tenho 27 anos, este ano vou estagiar como psicólogo educacional, e sou um homem muito feliz com o amor da minha vida que se chama Céu Coelho!
Achei o seu projecto muito interessante, uma vez que se destina não apenas a estudantes ou leitores, mas também a idosos que têm a sensibilidade das pontas dos dedos reduzida e com isso fiquem mais cansados. Isso é fantástico, porque hoje em dia os idosos são a população mais esquecida... Fico muito triste, mesmo muito, e sabe o que penso que seria emocionante? imagine um cego a ler um livro em Braille para outro que é idoso! Fantástico! Já pensou nisso? Até faria mais sentido assim porque ambos estariam em perfeita sintonia e seria uma boa ocupação para os jovens cegos que, a meu ver, conviver com os idosos é tão gratificante!
Minha amiga, o Braille é o pilar da vida dos cegos e amblíopes, mas olhe que já existem muitas tecnologias que fazem do Braille uma ferramenta inestimável. Desde as máquinas electrónicas Braille até às mais sofisticadas e potentes linhas Braille e impressoras Braille. No entanto, tais tecnologias são pouco acessíveis de tão carérrimas.... é por isso que os áudiolivros e os sintetizadores de voz, mais baratos e que não requerem leitura, estão cada vez a ganhar mais terreno nas nossas vidas...
Se nós deixarmos de usar o Braille, aí é que ele vai acabar mesmo... E o Louis Braille que fez tudo por nós será esquecido...
Desejo-lhe muitas felicidades e que o seu projecto se concretize!!! Pois projectos como o seu são dignos de reconhecimento e o que mais me dá gozo é ver os outros felizes!!!!
Cumprimentos com estima e apreço,
Marco Branco
Olá Virginia!
Não pude deixar de comentar o seu post por várias razões nas quais não estou de acordo. A primeira que me chamou à atenção é que escreveu incorrectamente o nome do sistema Braille. Não é Breille mas sim Braille, Braille, Braille... Apenas estou a chamar-lhe a atenção para esse pormenor que não deixa de ser importante para mim e para os que prezam Louis Braille.
Save o que significa na verdade a palavra "invisual"? Se tiver curiosidade e abrir um dicionário de etimologia vai ficar surpreendida ao saber que "invisual" significa "que não se vê" que é "invisível"... Então os invisuais são transparentes!.... Quando eu soube esta verdade libertadora nunca mais voltei a usar essa palavra. É mais correcto dizer "deficiente visual", e se pretende realizar um trabalho científico aconselho-a a nunca utilizar o termo "invisuais" mesmo que apareçam nos artigos de autores com reputação.
Pessoalmente, sem Braille não há como alfabetizar os deficientes visuais, uma vez que os áudiolivros não permitem aprender a ler e a escrever, apenas facilita o acesso à informação. Portanto, ponho de lado os áudiolivros e mantenho a minha opinião que o Braille é insubstituível e o melhor modo de ter acesso autónomo à informação e de a transformar como protagonista da mudança social.
Não sei se já leu aqui os vários depoimentos a favor do Braille e da autonomia que ele confere às pessoas com deficiência visual. Se reparar, muitos preferem ter um livro em Braille para serem os próprios a fazer a sua interpretação e sem dependerem dos outros para ler seja o que for. É verdade que muitas bibliotecas não têm os livros em Braille, o que condiciona grandemente a acessibilidade dos estudantes e leitores. Aposta-se mais nas tecnologias do que no Braille...
Não quero dizer que o seu projecto não seja útil para nós, deficientes visuais, mas penso também nos pros e contras de termos de depender de alguém que leia por nós... O ideal seria que a informação estivesse acessível em Braille ou que pudesse ser lida num computador equipado com um Terminal Braille. Eu sempre gostei de ler em silêncio, até porque é a forma como melhor estudo e deleito-me com um bom livro.
Sem a querer ofender, apenas deixo-lhe aqui a minha opinião como utilizador do Braille há 11 anos.
Cumprimentos
Marco Branco
Querida Céu,
Estou 100% de acordo com o que disseste sobre o Braille, partilhando da mesma opinião que tu em relação à leitura de livros em Braille.
Não me imagino sem ele, porque, como é do conhecimento de muitos do LERPARAVER, também tenho deficiência auditiva para além da deficiência visual. Aprendi o Braille quando cego, aos 16 anos, e ele era os meus olhos e os meus ouvidos. Ajudou-me imenso a desenvolver as capacidades cognitivas e a melhorar muito a minha escrita. Sem ele e sem as tecnologias de suporto (terminal braille e impressora braille) não teria sido possível que eu prosseguisse os meus estudos e fosse tirar um mestrado em Psicologia da Educação que tanto queria!
Os áudiolivros e os leitores de ecrã são excelentes formas de acesso à informação e à cultura, mais jamais irão fazer com que o Braille morra. Porque o Braille é o único método de leitura-escrita por excelência para os cegos, e eu sinto-me descansado porque ele é exigido nas escolas em qualquer disciplina, embora o Português o exija mais.
A grande desvantagem das tecnologias áudio é que elas não permitem a alfabetização nem a literacia, portanto o Braille é insubstituível e jamais outro método o superará.
Amo a leitura em Braille seja no papel seja em digital, desde que o Braille seja a possibilidade de discorrer com os meus dedos pelas páginas. Prefiro o Braille em papel porque posso ler quando quiser, onde quiser, como quiser, como me apetecer!
No entanto, invade-me uma tristeza ao saber que muitos cegos desta nova geração das tecnologias áudio estejam a crescer sem aprender a ler e a escrever... Louis Braille não merece tal coisa depois d todo o trabalho que teve para trazer ao mundo dos deficientes visuais a possibilidade de de ler e escrever.
Quando for pai e tiver os meus filhos vou contar-lhes a história fascinante do Braille e ensinar-lhes esse maravilhoso alfabeto para que eles cresçam aceitando os outros e se um dia perderem a visão não se assustarem pensando que não vão poder mais ler e escrever.
Digo-te isto muito carinhosamente.
Teu Marco
Páginas
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